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DESERTO
Fiúza abastece sua moto em “posto” no Saara.
Abaixo, Lima após o acidente

Aventureiro profissional, o motociclista mineiro Rodrigo Fiúza, 35 anos, tinha um currículo que somava 270 mil quilômetros percorridos em 60 países. Tanta bagagem, porém, não foi suficiente para livrá-lo de um imprevisto na sua última expedição. No dia 5, quando deveria concluir a viagem de 25 mil quilômetros entre Londres (Inglaterra) e Johannesburgo (África do Sul), Fiúza era réu num julgamento tribal nos confins da Etiópia. Num terreiro, 50 nativos decidiam seu destino em uma língua incompreensível – e, com olhares de raiva, atiravam pedaços de pau nele. Sem advogado de defesa, Fiúza estava sendo julgado por um acidente que nem mesmo dois anos de planejamento puderam evitar.

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Tudo começou no dia 7 de abril, em Londres, quando Fiúza e o cinegrafista Carlos Lima, 36 anos, iniciaram a jornada. O objetivo era entregar uma mensagem de boa sorte aos jogadores da Seleção Brasileira de Futebol antes do início da Copa. Mas no dia 30 de maio, com 70% do percurso concluído, sofreram um acidente no interior da Etiópia, a 80 quilômetros do vilarejo de Bahar Dar. Fiúza vinha na frente, a 100 km/h, e Lima atrás, quando avistaram uma carroça, conduzida por duas adolescentes. Assustado com o ronco das motocicletas, o cavalo disparou. Fiúza conseguiu desviar do animal, que bateu com a cabeça no bagageiro de sua moto. Lima não teve a mesma sorte e foi atingido pelo cavalo. Fraturou o braço em cinco lugares – duas foram expostas –, uma das meninas teve o pulmão perfurado e o animal morreu.

Iniciavam-se ali duas semanas de pesadelo. “Vi meu projeto morrer e meu parceiro ferido num país sem nenhuma estrutura”, conta Fiúza. Lima foi atendido num posto de saúde próximo e depois transferido para um hospital a 95 quilômetros do local. Detalhe: no trajeto, a ambulância atropelou um burro e seus integrantes quase foram linchados. No hospital, não havia medicamentos. “Para que meu osso fosse colocado no lugar, seis pessoas tiveram de me segurar, porque não tinha anestesia”, conta Lima, que já sangrava há sete horas. “O enfermeiro que segurava a minha cabeça, fumava um cigarro e me dava tragos para me acalmar.” Segundo ele, foram os piores 15 minutos de sua vida.

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PRECÁRIO
Nas estradas da Etiópia, veículos
motorizados são raros

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Para viabilizar a volta rápida de Lima ao Brasil, Fiúza assumiu a responsabilidade pelo acidente e, por isso, teve o passaporte retido e foi julgado. Ao final de sete horas de deliberações, ele teve de desembolsar US$ 4 mil de indenização pela garota ferida, que se recuperou, e pelo cavalo morto. No Brasil desde a quinta-feira 10, Fiúza não se considera azarado. “Podíamos ter morrido”, diz. Lima se prepara para a quinta cirurgia e ainda corre risco de ter sequelas.

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