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A Jabulani quicou no gramado do Soccer City e pegou velocidade rumo ao banco de reservas da seleção argentina. Não fosse um senhor de 49 anos que se postava em pé na lateral do campo, elegante dentro de um terno cinza milimetricamente distribuído no seu corpo de 1,63 m, aquela bola teria um fim insosso nas mãos de um gandula. A sorte dela foi que Diego Maradona estava em sua trajetória. Com um toque sutil e preciso de chaleira, El Pibe mudou a direção dela e proporcionou à mal fadada bola cinco minutos de fama, com reprises e mais reprises no telão do estádio, palco de Argentina 4 x 1 Coreia do Sul, na quinta-feira 17. Gonzalo Iguain, artilheiro da partida e do Mundial com os três gols marcados contra os sul-coreanos, foi eleito o homem do jogo. Messi, o atual 10 da albiceleste, provou novamente ser diferenciado dentro de campo. De sapato cintilante, terno bem cortado e barba aparada (a pedido dos netos), porém, o treinador da Argentina é, por enquanto, o dono da Copa.

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O ASTRO
No jogo contra a Coreia do Sul, o visual caprichado a pedido
dos netos e a vibração com o desempenho de seus pupilos

“É curioso ver meus colegas à beira do campo virarem suas câmeras na direção contrária de onde está a bola, que deveria ser a atriz principal, apenas para focar Don Diego”, dizia um fotógrafo espanhol que enquadrava Maradona em sua máquina no Soccer City. Tem uma explicação.Em uma Copa com poucos gols, homogênea na maneira pragmática de praticar o esporte e repleta de proibições – jogadores de várias seleções têm o individualismo cerceado também fora de campo –, Maradona quebra o protocolo. Sem muito esforço, vale-se da personalidade que o fez íntimo de Fidel Castro, Evo Morales e o ex-velocista banido do atletismo por doping, Ben Johnson, que ele chegou a contratar como personal trainer. Nesse mundial Maradona ainda declarou guerra a Pelé e ao alto escalão da dona do espetáculo em que ele tem dado o show: a Fifa.

Nos dois primeiros jogos que marcaram seu retorno ao Mundial, Maradona se mostrou um pai para os seus comandados. Trajando moleton de atleta, ele foi a campo quase uma hora antes do apito inicial para bater bola e distribuir conselhos ao pé do ouvido dos jogadores. Claro, milongueiro de longa data, aproveita essa ocasião para distribuir beijos e aplausos para a inflamada torcida portenha, que já o trata como religião. Mas El Pibe – que liberou sexo e vinho aos seus atletas e exigiu um vaso sanitário de R$ 2 mil nas dependências da Universidade de Pretória, o QG da Argentina – está longe de ser santo. Suas entrevistas provam isso. “Pelé deve voltar ao museu”, esbravejou ele em uma delas. “Ninguém, nem Elano e Maicon, jogaram 40% do que Messi jogou nessa Copa”, soltou em outra. Nem mesmo o desconhecido Huh Jun-Moo foi poupado. Disse o argentino sobre o técnico sul-coreano, que foi seu adversário dentro de campo no Mundial de 1986 e com quem bateu boca durante a partida no Soccer City. “Ele não jogava futebol, lutava taekwondo. Vou cumprimentá-lo antes do jogo protegido por uma armadura.”

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No papel de showman, Maradona não se importa em roubar a cena de seus próprios jogadores. Embora cite Messi o tempo todo em suas entrevistas, comporta-se como a estrela principal do time argentino, com jogadas claramente ensaiadas para ter efeito midiático, como cobrar faltas durante os treinos ou dar baforadas em um charuto no meio do campo. Tímido, o atual camisa 10 vai precisar suar a camisa em campo, porque fora dele não tem espaço.

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