Michelle e Barack Obama jamais passaram tanto tempo debaixo do mesmo teto. Desde que se mudaram para a Casa Branca, eles se encontram várias vezes ao dia, tanto em atividades oficiais quanto em momentos de privacidade. Quase todas as noites, o casal janta com as filhas, Malia, 10 anos, e Sasha, três anos mais nova. No comando da maior potência mundial, com duas guerras em andamento no exterior e a missão de tirar os Estados Unidos de uma profunda crise econômica, o presidente americano ainda consegue ler histórias à noite para as garotas. Como se não bastasse, junto com Michelle, sua mulher há 17 anos, ele se dispôs a discutir a relação e o impacto da Presidência sobre sua vida privada. "Se eu não fosse presidente, ficaria feliz de pegar uma ponte aérea com minha mulher e levá-la a um espetáculo da Broadway, como lhe prometera durante a campanha, e não haveria confusão, burburinho ou fotógrafos", disse Obama à jornalista Jodi Kantor, do "The New York Times". "A ideia de que simplesmente não posso levar minha mulher para sair sem que isso se transforme numa questão política foi algo com que não fiquei feliz."

obama.jpg
LITURGIA DO CARGO A primeira-dama e o marido: dificuldade para equilibrar política e casamento

Durante uma longa conversa no Salão Oval, o gabinete oficial dos presidentes america nos, Obama e Michelle revelaram que há anos tentam equilibrar política e casamento. Detalhes da relação harmoniosa que sobrevive a momentos de turbulência começaram a vir a público no ano passado, durante a campanha presidencial. Michelle, que passou anos resistindo às ambições políticas do marido, sempre cobrou dele maior participação na criação das filhas e na vida doméstica. Afinal, desde que se elegeu senador de Illinois, em 1996, Obama acostumou-se a ficar a maior parte do tempo longe da casa da família, em Chicago. Quando chegava, nos fins de semana, compensava a ausência programando saídas noturnas com a mulher. Nem sempre sua tática dava certo. Certa vez, quando ocupava uma cadeira no Senado federal, em Washington, Obama telefonou para Michelle convidando-a para comemorar uma vitória parlamentar.

livro.jpg
CRISE Livro revela que o casal quase se separou em 2001

Questões domésticas não afligem mais o casal, que conta com um batalhão de funcionários para resolver esse tipo de problema. Com relação às filhas, a situação também melhorou. Além de Obama estar mais próximo delas, há o apoio da mãe de Michelle, Marian Robison, que também se mudou para a Casa Branca. O casal, em contrapartida, perdeu a privacidade para sair em público, embora não economize em demonstrações de afeto. A única tentativa de Obama de levar a mulher a um espetáculo em Nova York culminou com uma enxurrada de críticas em junho passado, pelo fato de o casal ter se divertido à custa de dinheiro público. Como presidente dos Estados Unidos, Obama havia se deslocado em um jato da Presidência. Escaldado, ele escolheu um programa mais prático para comemorar o aniversário de casamento no começo do mês passado: jantar no Blue Duck Tavern, em Washington. Mesmo assim, quando os dois saíram do restaurante havia uma multidão de fotógrafos esperando por eles.

Poucos dias antes, um período conturbado da relação do casal havia sido estampado no livro "Barack and Michelle: Portrait of an American Marriage" (Barack e Michelle: Retrato de um Casamento Americano, em tradução livre). Com base no depoimento de 200 entrevistados, o jornalista Christopher Anderson, que já integrou a equipe do "The New York Times" e escreveu sobre os Kennedy e sobre os Clinton, revelou que os Obama já estiveram à beira do rompimento. Segundo Anderson, em 2001 Michelle teria pensado seriamente no divórcio, mas o casal teria superado a crise ao se unir em torno de Sasha, que contraíra uma meningite.

img1.jpg
EM PÚBLICO Olhares de cumplicidade são uma das marcas de Obama e Michelle, que não economizam em demonstrações de afeto

Não há dúvida de que Michelle, uma bem-sucedida advogada, sempre cobrou do marido mais participação dentro de casa. Ela também se incomoda com o fato de Obama fumar e desconfia que ele é muito suscetível ao assédio feminino. Na conversa no Salão Oval, no entanto, essas questões foram amenizadas. "Não houve um momento em que eu temi por nosso casamento. Mas houve horas em que temi que Michelle realmente não… que ela ficasse infeliz", confidenciou um vacilante Obama. Michelle, por sua vez, disse que ficaria feliz se seus "altos e baixos no casamento pudessem ajudar jovens casais a se dar conta de que casamentos podem dar certo". De quebra, ela garantiu que continuaria casada por um longo tempo.

img2.jpg