Na economia, mais do que em qualquer outra atividade, um mesmo fato pode ser lido de várias formas. Exemplo: quando as vendas do comércio crescem, os otimistas logo enxergam espaço para investimentos na indústria, enquanto os pessimistas alardeiam risco de inflação. Na semana passada, diante de um problema complexo, o que prevaleceu, nos principais jornais do País, foi a leitura negativa. O caso em questão era a análise das contas externas nacionais, cujo saldo caiu para 0,75% do PIB. O motivo foi o aumento expressivo das remessas de lucros pelas subsidiárias de empresas multinacionais.

Em vez de simplesmente saudar a expansão dos lucros empresariais, que são o melhor retrato da saúde econômica de um país, os analistas preferiram apontar o dedo para fantasmas inexistentes. Na prática, agiram como “fracassomaníacos”, que são, na definição do sociólogo alemão Albert Hirschman, autênticos profetas da derrota. Ora, se o saldo em conta corrente ainda é positivo e o regime cambial brasileiro é flutuante, não há o menor risco de crises externas, como as que o País enfrentou nos anos 90.

A crítica aos ganhos das multinacionais talvez ainda fizesse sentido na década de 50, quando o Brasil via com desconfiança a chegada do capital estrangeiro. Hoje, é justamente o ambiente de lucros e de estabilidade que atrai grandes investimentos internacionais. Só neste ano, o País deverá receber um volume recorde de US$ 35 bilhões – e isso sem novas privatizações. Além disso, as empresas brasileiras estão cada vez mais inseridas na globalização. Basta lembrar os exemplos de Vale do Rio Doce, Gerdau e Friboi, que, em breve, estarão trazendo ao País lucros auferidos no Exterior. Quando isso acontecer, logo aparecerão os fracassomaníacos dizendo que a entrada de dólares estará valorizando demais o real.