Depois de tirar do caminho os impedimentos de ordem financeira, a empresa não descuidou de uma de suas especialidades: livrar o consumidor de ter de passar horas decifrando manuais para poder tirar o que o produto tem de melhor. O FaceTime, programa usado para fazer as ligações com vídeo do iPhone 4, simplifica a vida do usuário ao apresentar na tela todas as instruções necessárias. “Esse programa torna fácil, intuitivo e divertido ligar. E isso dá ao aparelho o potencial para transformar-se em algo que pode fazer a diferença em nossas vidas”, anima-se a analista Carolina Milanesi, vice-presidente de pesquisas da consultoria Gartner e especialista em dispositivos móveis.

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“O novo iPhone vai me ajudar muito no trabalho,
sobretudo pela possibilidade de fazer video-conferência”

Fábio Takeuti, designer do hospital Albert Einstein

Antes de correr atrás da Apple, os concorrentes reagiram mostrando que boa parte das tecnologias anunciadas por Jobs já estava incorporada em seus produtos. A Motorola tem dois aparelhos com videoconferência. A empresa se nega a falar sobre futuros lançamentos e possibilidades. No portfólio atual da Nokia, são nove celulares que suportam chamadas em vídeo. O primeiro aparelho da empresa com capacidade de videochamada foi o 6650, lançado em 2002. Em maio de 2005 foi lançado o Nokia 6680, com câmera frontal dedicada às videochamadas e que trazia um diferencial enorme em relação à Apple: permitia a ligação com aparelhos de outros fabricantes. A Samsung tem cinco celulares que fazem videochamada, lançados de 2009 para cá. O problema é que sobram aparelhos, mas faltam planos viáveis de popularização. Pouco adianta ser capaz de mandar e receber voz e imagem, se isso só é feito a preços exorbitantes.

Outra forte arma da Apple para liderar a nova era do videofone é um certo messianismo que reveste todos os anúncios feitos pessoalmente por Jobs. E isso faz consumidores perderem a sua característica passiva e virarem praticamente divulgadores não remunerados dos produtos da empresa. “Recebi um e-mail da Apple falando sobre o lançamento desse novo iPhone. Quando chegar ao Brasil, certamente serei o primeiro a comprar. No lançamento do iPhone 3GS aqui, havia apenas 500 aparelhos, e eu fiquei com um deles. Mas não compro só por comprar. Uso tudo no meu trabalho e na minha vida pessoal”, diz José Otávio Marfará, diretor-presidente da Reebok Academia Sports Club no Brasil. Quando o novo iPhone chegar por aqui dificilmente Marfará vai poder “usar tudo”. Pelo menos no que depender da boa vontade de quem cuida de telecomunicações no Brasil. No governo federal não há nenhuma providência sendo tomada com o objetivo de preparar o País para receber as novas tecnologias do iPhone. O que há é o tradicional jogo de empurra entre os órgãos do setor. Procurada por IstoÉ, a assessoria de imprensa do Ministério das Comunicações informou que o ministro José Artur Filardi não falaria porque “a responsabilidade pelo iPhone é da Anatel”. Na Anatel, os assessores pediram perguntas por escrito, mas depois de 24 horas informaram que “o assunto foge ao escopo da agência” e recomendaram que a reportagem procurasse o Ministério das Comunicações. Normal.

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Enquanto o Poder Público não se entende, a linha de montagem da Apple já tem agendada para setembro a entrega dos primeiros aparelhos que vêm para o País. Assim, as operadoras de telefonia celular nacionais têm pouco mais de dois meses para tirar da cartola estratégias que permitam vender todos os recursos do novo celular, principalmente o videofone. Aparentemente pegas de surpresa pelo anúncio do novo produto, Claro, Tim e Vivo afirmam não ter informações sobre a chegada do iPhone 4 e os possíveis planos que serão oferecidos com ele. A Oi se limitou a afirmar que vai comercializar o produto no Brasil.

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Apesar do tempo exíguo e da aparente falta de informação, é pouco provável que, quando o aparelho estiver disponível, as operadoras já não tenham uma estratégia para comercializá-lo. Quem ficar para trás, pode perder a preferência de uma categoria inteira de consumidores fiéis às novidades imaginadas por Jobs. “Confesso que me deixo ser seduzido por essa marca. Sou um pouco sem personalidade com relação a Apple”, diz Sergio Mota, 43 anos, doutor em literatura e professor do Departamento de Comunicação da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ). Apesar de parecer dominado, ele se permite um momento de reflexão e pergunta se de fato ele precisa de um iPad, mas já está preparando o terreno cerebral para que o iPhone 4 entre em sua vida assim que aportar no Brasil: “A possibilidade de fazer uma videochamada é uma coisa incrível que o novo aparelho oferece. Não quero ser perdulário, pois comprei o meu 3GS há poucos meses, mas talvez eu não resista quando vir o iPhone 4.”

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“Comprei o meu iPhone 3GS há pouco tempo, mas acho que
não vou resistir quando o novo chegar ao País”
Sergio Mota, professor da PUC-RJ

Outro desses adeptos apaixonados pela marca é Fábio Takeuti, designer digital do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. “Tenho o iPhone 3GS e o computador Macbook Pro, que me ajudam muito no meu trabalho. O iPhone 4 vai me ajudar ainda mais, principalmente pela possibilidade de fazer videoconferência e vídeos em alta definição.”

Tanta empolgação revela quanto os “applemaníacos” apoiam quase cegamente os produtos e os serviços oferecidos pela empresa. A ponto de varrer para baixo do tapete implicações importantes que vêm a reboque de um futuro em que possivelmente vamos ter um videofone em cada esquina. Quando ele tocar, por exemplo, o usuário não vai simplesmente atendê-lo prontamente. Antes, no mínimo, vai dar uma checada no penteado. Quem estiver do outro lado da linha sempre poderá saber onde o interlocutor está, o que há em volta dele, quem está por perto. E isso incomodará muita gente. Ou seja, o potencial de devastação da privacidade estará presente como nunca nessa nova era. Ao vivo, em cores, com som e na tela do seu videofone. “Existe quem critique a ferramenta, mas ela não é geradora dos problemas. A energia atômica, por exemplo, pode ser usada para destruir ou para desenvolver a medicina. O indivíduo é que deve dizer como vai lidar com isso e preservar os seus valores”, afirma Rosa Maria Farah, psicóloga e coordenadora do Núcleo de Pesquisas da Psicologia em Informática (NPDI), da PUC-SP.

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Colaboraram: André Julião, Cilene Pereira, Fabiana Guedes e Hugo Marquesa


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