Na última semana, os oncologistas tiveram um ótimo motivo para comemorar. Durante a sessão mais concorrida da conferência anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica, realizada nos EUA, os médicos conheceram os resultados da droga ipilimumabe, testada em pacientes com melanoma – o mais agressivo tipo de câncer de pele – em estágio avançado da doença. A substância é o primeiro tratamento eficiente contra a enfermidade lançado em 12 anos. Tudo o que existia até agora não funcionava para 85% dos doentes. “O ipilimumabe aumentou de forma importante a sobrevida dos pacientes. Estamos muito felizes com esse resultado”, disse à ISTOÉ Steven O`Day, líder da pesquisa, feita com 676 pacientes distribuídos por 13 países.

Se em geral o tempo de vida nesses casos era de cerca de seis meses, entre os voluntários do estudo estão pessoas que sobreviveram de dez meses a dois anos e alguns, até mais. “Há pacientes sem sinais da doença há mais de quatro anos”, diz Antônio Carlos Buzaid, do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, membro de um comitê internacional do estudo. “Isso sugere a possibilidade de cura.” A droga também aumenta o controle sobre o tumor. Em 30% dos casos, a doença não progrediu por seis meses. Com os tratamentos convencionais, apenas 10% dos pacientes obtêm esse efeito. “O ipilimumabe é uma revolução no tratamento do melanoma avançado”, afirma Buzaid.

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O remédio representa também uma inovação no tratamento do câncer de modo geral. Ele tem um mecanismo de atuação novo: a droga inibe a ação de uma substância fabricada pelo corpo destinada a frear as respostas do sistema imune. Livres desse mecanismo, os linfócitos T – integrantes do exército de defesa – atacam sem restrições as células doentes. Portanto, o ipilimumabe é o primeiro representante de um grupo de remédios cuja missão é atuar diretamente no sistema de defesa do corpo para fortalecê-lo no combate às células tumorais (leia mais no quadro abaixo).

Por essa razão, há muita expectativa em relação ao potencial da droga contra outros tumores. “É muito provável que o mesmo mecanismo seja útil para tratar outros tipos. Por isso, a droga está sendo investigada também para câncer de próstata e pulmão”, afirma Paulo Hoff, diretor de pesquisa clínica do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo. A instituição e o Hospital Amaral Carvalho, em Jaú (SP), participaram do estudo da nova droga.

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Em função de seu desempenho, espera-se que o medicamento seja aprovado rapidamente pelas agências reguladoras. Até porque a outra grande aposta, a vacina terapêutica, mostrou-se ineficaz. Na pesquisa sobre a droga, um grupo de voluntários foi tratado só com uma vacina em teste contra a doença, outro recebeu o ipilimumabe e um terceiro tomou as duas substâncias. “A vacina não teve efeito”, disse O`Day. Também há estudos com vacinas para tumores de cabeça e pescoço, pulmão, fígado e mama. Mas até agora foram poucos os avanços. Um deles é a vacina para tratar o câncer de próstata metastático, aprovada recentemente. Nenhuma delas é para evitar o aparecimento da doença, mas sim para retardar sua progressão.

No congresso ficou claro que o tratamento será cada vez mais ajustado ao perfil genético do paciente. Bom exemplo disso é o desempenho da droga crizotinibe, contra os tumores de pulmão em pessoas que nunca fumaram e são portadoras de uma mutação no gene ALK: 65% tiveram regressão dos tumores após oito semanas de terapia. “Cada vez mais, teremos drogas com grande impacto em pequenos grupos”, diz Hoff. “Não existe mais um tratamento que sirva para todos”, diz o médico Artur Katz, de São Paulo.

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Muitos estudos apresentados no encontro avaliaram a associação dos anticorpos monoclonais com a quimioterapia. Um deles mostrou que, no caso de câncer de ovário, adicionar o bevacizumabe à quimio e dá-lo sozinho por mais 15 meses após tirar o órgão pode aumentar em 3,8 meses o período livre de sintomas. Porém, não ficou ainda provado se o remédio aumenta o tempo de vida total dessas pacientes. Por isso, seu custo-benefício nesse caso está em estudo.

O fato é que, brevemente, os tumores serão atacados por diversas vias. “Como uma sala que tem várias portas a serem fechadas para impedir o acesso”, explica Sérgio Simon, do Grupo Brasileiro de Estudos do Câncer de Mama.


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