Ao confirmar um movimento conservador que há décadas pauta o seu comportamento, a ONU – com o anúncio das sanções contra o Irã – rasgou as chances de um acordo, que vinha sendo pilotado conjuntamente pelo Brasil e a Turquia, e perdeu assim a melhor oportunidade de abrir as portas para uma saída negociada que barrasse a escalada nuclear em avanço no Oriente Médio. Na prática, as sanções têm um efeito rigorosamente pífio. O Irã, agora movido pela evidência do fim do diálogo, já avisou que não vai deter o enriquecimento do seu urânio. E o planeta fica à espera de um próximo passo no caminho de mais radicalização. Os custos dessa opção ainda não estão devidamente desenhados, mas já se sabe que na base da ação/reação sempre vão acabar perdendo todos. No campo político, a decisão da ONU representou uma necessária injeção de força à imagem do presidente americano, Barack Obama, que vinha sendo criticado por sua condução claudicante nas questões mundiais.

No oposto desse efeito não está necessariamente uma derrota de gestão diplomática do presidente Lula. Ao contrário. Ao atuar por um entendimento, com o aval do próprio Obama – como ficou claro em correspondências oficiais depois divulgadas –, Lula consagrou a via alternativa em que os países emergentes podem se projetar como nova força no tabuleiro das discussões globais. Países que votaram alinhados com os EUA o fizeram por temor de consequências comerciais futuras com o grande parceiro. Os EUA, por sua vez, não fizeram nenhuma questão de esconder essa ameaça. Mesmo o Brasil percebeu o tom pesado quando seus representantes foram abordados insistentemente para que evitassem um racha na votação da ONU. Por coerência e convicção, o Brasil e a Turquia disseram não às sanções. No conjunto, elas são mais brandas que as aplicadas, por exemplo, contra Cuba – onde se vive sob bloqueio absoluto há décadas. Na resolução da ONU, daqui por diante qualquer país estará autorizado a inspecionar cargas que entrem e saiam do Irã. Quarenta outras empresas iranianas serão colocadas numa lista com bens cuja comercialização fica proibida em todo o mundo, por suspeita de sua colaboração com o programa nuclear daquele país. O que isso tem a ver com alternativa efetiva para estancar a movimentação de um país marcado por uma ditadura de fanatismo religioso? Muito pouco. Dá na verdade mais combustível para que o Irã flerte com organizações terroristas como o Hamas, na Faixa de Gaza, e o Hezbollah, no Líbano. A miopia dos governantes e a tibieza da Organização das Nações Unidas levaram o planeta para a pior solução. A que não deixa margem a acordo.