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SOCIEDADE SECRETA
Grupos de elefantes machos intrigam os cientistas

Poucas espécies vivem em organizações sociais e familiares tão estruturadas quanto os elefantes. Africanos ou asiáticos, eles costumam seguir as regras clássicas do matriarcado: as fêmeas mais velhas lideram grupos compostos por suas irmãs, sobrinhas e filhas durante décadas. Jovens machos são aceitos somente até atingirem a maturidade sexual, por volta dos 13 anos. Depois disso, só penetram nos bandos femininos durante os poucos dias da temporada anual de acasalamento, quando as fêmeas entram no cio. Até agora, os cientistas supunham que eles vivessem de forma independente no resto do tempo. Mas uma pesquisa de seis anos liderada pela ecologista e médica otorrinolaringologista americana Caitlin O’Connell-Rodwell, realizada na Namíbia, sugere que as coisas não funcionam necessariamente dessa maneira.

Segundo o estudo da cientista, que serviu de base para o seu livro “The Boys’ Club” (“O Clube dos Garotos”, ainda inédito), elefantes machos podem viver em bandos que variam de três a uma dúzia de indivíduos ao longo de muitos anos. “Ao que tudo indica, os mais velhos comandam os mais novos para administrar a agressividade típica dos adolescentes”, disse à ISTOÉ a professora da Universidade de Stanford (EUA) Caitlin. “Além disso, os grupos de machos enfrentam melhor as adversidades do meio ambiente, que poderiam levar indivíduos solitários à morte.” O trabalho de observação levantou novos e importantes indícios sobre a comunicação entre a espécie (leia o quadro abaixo) e derrubou mitos sobre a homossexualidade animal.

Há tempo a ciência sabe que elefantes machos relacionam-se sexualmente com seus semelhantes – algo comum entre mamíferos e pássaros. Mas Caitlin sustenta que carícias e carinhos tidos anteriormente como sinais de romance indicariam, na verdade, uma relação mais parecida com a de mentor e pupilo. Exemplo: jovens machos costumam enfiar a ponta de suas trombas na boca do líder mais velho. Segundo a nova pesquisa, o ato não teria conotação sexual e seria apenas uma demonstração de respeito. “Observamos que a montada de um macho sobre outro pode ser um ato de dominância não sexual ou apenas uma brincadeira”, diz Caitlin, que qualifica seu trabalho de campo como uma “janela para uma sociedade secreta”.

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