Num país já acostumado a escândalos é até natural que a sociedade trate o caso do Mensalão Mineiro apenas como mais uma falcatrua protagonizada por políticos ávidos por um novo mandato. O que é de estranhar é o comportamento dos próprios políticos quando colocados diante da documentação que comprova tamanho desvio do dinheiro público. O ministro Walfrido dos Mares Guia, um dos principais envolvidos no propinoduto, tem recebido por parte de seus colegas, tanto no Legislativo como no Executivo, um tratamento especial. A começar pelo presidente Lula.

Velhos companheiros do PT, como José Dirceu, Antônio Palocci e Luiz Gushiken, se viram fora do governo depois de denúncias muito menos documentadas do que as existentes contra Mares Guia. Perderam seus lugares na Esplanada dos Ministérios antes de qualquer manifestação oficial da Polícia Federal e até da Procuradoria da República. O mesmo vale para Silas Rondeau, o ex-ministro de Minas e Energia, que perdeu o cargo quando a PF deixou vazar um vídeo mostrando a funcionária de uma empreiteira entrando no gabinete com um envelope. Com Mares Guia é diferente: o relatório da Polícia Federal apresenta vasta documentação que o compromete, mas o presidente afirma que o manterá no governo, mesmo que ele venha a ser denunciado pelo procurador-geral.

Também no Congresso, Mares Guia tem tratamento especial. O presidente do Senado, Renan Calheiros, enfrenta representações no Conselho de Ética a cada acusação que surge contra ele. Com Walfrido, até o aguerrido PSOL permanece em silêncio. Entre os parlamentares, o privilégio também favorece o senador Eduardo Azeredo. Pivô do Mensalão Mineiro, os documentos da PF mostram que ele mentiu à CPI dos Correios e ninguém falou em quebra de decoro parlamentar. Diante desses fatos cabe perguntar: por que tanto privilégio?