Já foi escrito por aqui que, se no Brasil houvesse uma competição entre ficção e realidade, a vitória acachapante seria da realidade. Mais recente prova disso são os ingredientes que, quase diariamente, alimentam o fantástico caldeirão onde, em fogo descontrolado, é servida a atual crise brasileira. Nem os mais férteis ficcionistas políticos poderiam produzir fatos e personagens como os que estamos testemunhando. Quem deles poderia imaginar e descrever com detalhes aquele dirigente de partido que está sob os holofotes da desconfiança e tenta passar por um aparelho de raio X de aeroporto com R$ 200 mil dentro de uma mala, achando que nada será detectado? Além da imaginação também está o fato de o mesmo delirante personagem estar envergando uma cueca recheada de dólares. Muitos dólares. Nem da cabeça de um John Le Carré poderia sair a idéia de estampar na mala fatídica do infortunado personagem a frase “No stress”, para completar o nonsense da situação. Nesse desvairado folhetim político há ainda, pasmem, secretárias com sobrenome Boato, tesoureiros que atendem pelo nome de Lamas, armários que atingem olhos de depoentes das comissões de inquérito, enquanto policiais armados até os dentes invadem paraísos do consumo de luxo e aviões de igrejas são flagrados com fartos carregamentos de dinheiro.

Como as explicações racionais para tamanha incompetência demonstrada não são suficientes, nem convincentes, ISTOÉ foi ouvir astrólogos, tarólogos e pais-de-santo para tentar desvendar a loucura reinante. O resultado dos búzios, das cartas e das previsões está na reportagem “Muito além da incompetência”, de Ana Carvalho, que começa à pág. 38. Boa leitura, paz e tranqüilidade. Se é que isto é possível.