Quando o guitarrista e produtor Christiaan Oyens deparou com o repertório escolhido por Zélia Duncan para seu novo CD, levou um susto. Sui generis era pouco, ele preferiu dizer que era sem pé nem cabeça. “Típico do Christiaan”, disse a cantora por telefone a ISTOÉ. É típico de Zélia, segundo o compositor Luiz Tatit, que, ao analisar Pré-pós-tudo-bossa-band, fala em “fricção dos gêneros, dos estilos e das épocas”. O disco traz parcerias com os amigos Lenine, na canção-título, com Paulinho Moska, em duas músicas, além de Christiaan, Pedro Luís, Lucina, Lulu Santos, Mart’nália e Beto Villares. Zélia ainda colocou letra no tema Inclemência, de Guerra Peixe, rebatizado como Diz nos meus olhos, dividiu a interpretação da derramada Mãos atadas, de Simone Saback, com Roberto Frejat e incluiu nada menos do que quatro composições de Itamar Assumpção, falecido em 2003, de quem é admiradora antiga, Dor elegante (com Paulo Leminski), Vi, não Vivi (com Christiaan), Tudo ou nada e Milágrimas (ambas em parceria com a poeta Alice Ruiz).

A cantora fluminense diz que toda essa ebulição lhe é natural. Não consegue produzir sob pressão e não entra em estúdio com disco pronto. E sempre é colhida por surpresas. O roqueiro Lulu, por exemplo, devolveu-lhe um samba,Quisera eu, enquanto a sambista Mart’nália compareceu com a balada Benditas. Um dos segredos da sonoridade do disco foi o estúdio em que foi gravado. Sendo ela
própria uma guitarrista – “estou tocando cada vez mais no palco”, garante –,
escolheu A Toca do Bandido, o estúdio do produtor Tom Capone, falecido em um acidente de moto nos Estados Unidos, famoso pela coleção de guitarras antigas à disposição dos músicos. Para alegria de Christiaan e Rick Ferreira, que adornaram ainda mais a elegância característica do trabalho de Zélia Duncan.