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NO MINISTÉRIO PÚBLICO
Após depor sobre sua relação com o
tráfico, Adriano vai relaxar numa ilha no Mediterrâneo

Adriano poderia reinar nos mais nobres gramados do mundo e ter muitos súditos a seus pés. O ex-atacante do Flamengo, porém, prefere colocar sua carreira em risco ao manter perigosas ligações com traficantes da favela na qual nasceu, a Vila Cruzeiro, na zona norte do Rio de Janeiro. Coroado Imperador no clube italiano Inter de Milão, Adriano Leite Ribeiro, 28 anos, está, de novo, às voltas com investigações policiais sobre uma suposta associação com criminosos. O Ministério Público do Rio, onde ele prestou depoimento na quarta-feira 2, considera “gravíssimos” os fatos que o cercam e diz, em nota, que “há fortes indícios de que ele tenha repassado dinheiro ao traficante Fabiano Atanásio da Silva”. Atanásio, vulgo “FB”, é ninguém menos que o líder da organização criminosa Comando Vermelho e a suspeita é de que o jogador tenha repassado R$ 60 mil ao traficante. No interrogatório, Adriano negou tudo. Disse que nunca deu dinheiro para a facção, apenas ajudava a favela a pedido dos traficantes, com cestas básicas e brinquedos nas festas de Dia das Crianças e Natal. O delegado Luiz Alberto Andrade, responsável pela investigação, e o Ministério Público, no entanto, querem a quebra dos sigilos bancário e telefônico do atacante.

Adriano não é a primeira nem a única estrela do futebol, entre outras celebridades, a se envolver com bandidos. Seus colegas Júlio César (Seleção Brasileira e Inter de Milão) e Vagner Love (Flamengo), por exemplo, também estiveram nas páginas policiais. Fora dos gramados, o cantor Belo conseguiu liberdade novamente há três meses, após condenação de oito anos por comprar um fuzil de um traficante. Mas, atualmente, quem está no olho do furacão é o Imperador. Neste fim de semana, ele tem viagem marcada para a Sardenha, no Mar Mediterrâneo, onde passará uma semana de férias antes de assinar contrato com o clube italiano Roma. Como é citado no inquérito apenas como testemunha, nada o impede de viajar. Mas, quando a sindicância for encerrada, no prazo máximo de 60 dias, ele pode ser denunciado, segundo o promotor Alexandre Themístocles, que o interrogou. Apesar da gravidade da situação, Adriano saiu da sala de depoimento, na quarta-feira 2, dando risada.

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O atacante não está livre de ser interrogado novamente. O chefe de Polícia Civil, Allan Turnowski, afirmou que ele ainda terá de depor na polícia – ele faltou duas vezes a depoimentos marcados na 38ª DP. As investigações incluem ainda a compra, com seu cartão de crédito, de uma motocicleta registrada no nome da mãe do chefe do tráfico no Morro da Chatuba, também no Rio. Detalhe: a senhora presenteada nunca pilotou uma moto na vida. Para completar o período turbulento, foram divulgadas, na semana passada, duas fotos em que ele aparece sorridente empunhando uma arma, réplica do fuzil HK-416, e fazendo com as mãos o sinal “CV”, exatamente como os bandidos reverenciam o Comando Vermelho. As imagens foram feitas quando ele ainda morava na Itália, em 2007. O craque explicou que foi “uma brincadeira” e se disse arrependido.

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Psicanalistas afirmam que esse comportamento de Adriano, que amargou a exclusão de seu nome na lista do técnico Dunga, já é suficiente para frustrar uma multidão de fãs, muitos deles crianças e jovens que sonham ser um Imperador no futuro. A psicanalista Lídia Levy, professora de psicologia e justiça da Pontifícia Universidade Católica do Rio, chama a atenção para a frustração que atletas provocam quando dão um passo em falso. “Os ídolos também erram. O problema é quando o deslize desfaz a imagem de uma maneira tão negativa que é quase impossível reconstruí-la”, explica. O sociólogo Gláucio Soares, pesquisador do Instituto Universitário de Pesquisa do Rio de Janeiro (Iuperj), acha que “os Adrianos da vida representam a possibilidade de um menino pobre conseguir o status que deseja” e que a frustração com esse tipo de comportamento afeta somente os garotos oriundos da classe média para cima. Na favela, ele continuaria imperando. O goleiro Júlio César, titular absoluto da Seleção Brasileira e do Inter de Milão, viveu um desconforto parecido. Em 2005, ele foi grampeado pedindo ajuda ao chefe do tráfico da Rocinha, Erismar Rodrigues Moreira, o “Bem-Te-Vi”, para localizar um carro roubado. Nas gravações, Júlio César demonstra intimidade com o criminoso. “Qual é, Bem-ti? Qual é, doido, não tá me reconhecendo, não?”, pergunta.

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O atacante Vagner Love, do Flamengo, também teve seu nome associado à criminalidade. Love foi filmado neste ano em um baile funk na favela da Mangueira, no Rio, escoltado por traficantes armados de fuzis e da arma sueca AT-4, usada pelo Exército dos Estados Unidos. O jogador foi chamado para depor e, depois, liberado. Ignorando todos os aspectos da questão – tanto da suposta ligação com traficantes, quanto do péssimo exemplo para a torcida –, afirmou não ver nenhum problema no episódio. “Tenho afilhados e amigos lá, nunca vou deixar de frequentar as minhas origens. Em toda favela há homens armados, isso é normal”, chegou a dizer o jogador. Caso clássico em que ídolo e exemplo não andam juntos.


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