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A rede de túneis clandestinos cavados entre a Faixa de Gaza e o Egito acaba de entrar em temporada de baixa atividade. Centenas de palestinos começaram a cruzar a fronteira legalmente pelo posto de Rafah, que havia sido fechado há três anos. Única fronteira de Gaza que não está sob controle israelense, ela havia sido bloqueada quando o grupo extremista Hamas tomou o poder no território palestino. O acordo de fechamento feito pelo Egito com Israel e os Estados Unidos não resistiu, porém, à onda mundial de protestos contra o ataque promovido por forças israelenses em águas internacionais. Para barrar a passagem de uma flotilha com seis embarcações, 628 ativistas de 38 países e dez mil toneladas de ajuda humanitária a Gaza, o governo de Israel despachou para alto-mar três navios lança-mísseis com militares de elite. Acuadas pela aproximação dos navios e pelo sobrevoo de helicópteros, as cinco embarcações menores do movimento Gaza Livre não demoraram a render-se. Na maior delas, Mavi Marmara, a abordagem terminou com pelo menos nove ativistas mortos e 40 pessoas feridas.

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ABORDAGEM
Imagens feitas por Israel mostram a invasão e a reação de ativistas aos militares

Existem duas versões sobre o ataque. Os ativistas garantem que os militares israelenses dispararam à distância do Mavi Marmara, antes do amanhecer da segunda-feira 31 de maio. “Tiros foram disparados dos navios em nossa direção. Em dez minutos, havia três mortos”, garante a deputada árabe-israelense Hanin Zoabi, que estava na embarcação com ajuda humanitária. “O propósito não era apenas parar o barco, mas causar o maior número possível de baixas, para deter iniciativas como esta no futuro.” Única brasileira entre os passageiros, a cineasta Iara Lee também ouviu tiros desde o começo da abordagem. Ao encarregado de negócios da embaixada do Brasil em Tel-Aviv, Eduardo Uziel, Iara contou que desceu junto com outras mulheres para a parte inferior do Mavi Marmara no começo do ataque. “Quando subiu, ela viu quatro cadáveres”, relata o diplomata.

A versão difundida por Israel é oposta. “Nossos soldados estavam lidando com um grupo de extremistas que suportam o terrorismo”, afirmou o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu, que estava no Canadá no momento do ataque. De volta a Israel, Netanyahu disse lamentar as mortes, mas manteve-se irredutível na posição de que o cerco a Gaza é fundamental para a segurança do país. “Eu tenho que deixar claro que os soldados protegeram suas vidas bravamente e que estou muito orgulhoso do que eles fizeram.” Na sequência, o Exército israelense divulgou que os militares só reagiram aos ativistas. Quando agredidos, teriam trocado suas pistolas de paintball por armamentos de fogo.

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Protesto
Manifestação contra o ataque e pelo fim do bloqueio à Gaza

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Como contraponto às condenações recebidas após o ataque, Israel tratou de desfechar uma outra investida, desta vez midiática. Abriu contas no Twitter e criou páginas na rede social Facebook para postar sua versão. Por meio do YouTube, passou a divulgar vídeos feitos pelo Exército. Num deles, militares descem por cordas de um helicóptero e são agredidos com barras e cadeiras de plástico no deque do Mavi Marmara. Um dos militares é jogado ao mar. Por enquanto, não apareceram fotografias nem vídeos feitos por ativistas, pois seus notebooks, câmeras e celulares acabaram confiscados no momento em que foram detidos, algemados e levados para território israelense, a cerca de 120 quilômetros do local do conflito.

Convocado para uma reunião de emergência, o Conselho de Segurança das Nações Unidas considerou a situação de Gaza “insustentável” e pediu uma investigação “imediata, imparcial, crível e transparente” sobre o confronto. A Turquia, país de origem da maior parte dos ativistas, queria que o conselho acusasse Israel de violar leis internacionais, mas enfrentou forte oposição dos Estados Unidos. Se o ataque tivesse ocorrido em outras paragens, a reação americana seria certamente diferente. O Brasil se perfilou com a parte do mundo que reagiu com duras críticas ao ataque. “Israel não tinha o direito de fazer o que fez”, disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em São Bernardo do Campo, dois dias após o protesto oficial do Itamaraty. Diante das pressões internacionais, o governo Netanyahu decidiu libertar e deportar rapidamente os ativistas detidos. E não teve como conter o fluxo de palestinos para o Egito por meio da fronteira reaberta em Rafah. Na prática, um dos afetados pela ação desencadeada por Israel é o próprio país.

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