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Se a trajetória política do presidente Lula guarda alguma semelhança com a do ex-premiê socialista espanhol Felipe González, como já foi notado, o Partido dos Trabalhadores precisa, urgentemente, encontrar seu “Zapatero”. Explica- se: Lula e Felipe foram dirigentes socialistas que moldaram seus respectivos partidos a suas imagens e semelhanças. E, uma vez no poder, ambos não hesitaram em se desvencilhar de bandeiras históricas de suas organizações: Felipe colocou a Espanha na Otan e Lula manteve a política econômica neoliberal de FHC. O establishment e os mercados, antes hostis, aplaudiram os dois pelo respeito demonstrado ao status quo.

Mas escândalos de corrupção minaram o reinado socialista na Espanha e rasgaram a máscara de vestal do PT no Brasil. Felipe González teve que se aposentar depois de perder a eleição em 1996. Já Lula, apesar do “mensalão”, foi reeleito em 2006; por isso, enquanto o PSOE precisou mudar de rumo para sobreviver, o PT pôde jogar a sujeira para debaixo do tapete. O novo líder do PSOE, José Luis Rodríguez Zapatero, apostou numa agenda moderna, que não contestava a ortodoxia de Maastricht, mas criava compromissos à esquerda, como a laicização do Estado. Depois de ganhar, quase por acaso, as eleições de 2004, Zapatero legalizou a união de homossexuais, acabou com a obrigatoriedade de ensino religioso e busca liberalizar as leis do aborto e de pesquisa de células-tronco. Hoje, ele representa a nova esquerda, nem radical nem adesista.

A vitória de 2006 acomodou o PT; tanto que seu III Congresso manteve a tendência hegemônica, identificada com os desvios éticos. Lula não é Felipe González, é certo, mas talvez só uma derrota eleitoral faça o PT encontrar seu “Zapatero” e se reinventar como moderna opção de esquerda. A alternativa é cair na tentação bonapartista, estilo Hugo Chávez.