O clima na frente do portão de Furnas Centrais Elétricas, em Botafogo, no Rio de Janeiro, remetia a infl amadas greves sindicais. Mas, na ensolarada manhã da quintafeira 26, o que se discutia ali era algo além de reajustes de salários ou direitos trabalhistas: o foco era o controle de um patrimônio de R$ 6,3 bilhões do fundo de pensão da estatal, a Fundação Real Grandeza. Trabalhadores, aposentados e sindicalistas distribuíam panfl etos e carregavam cartazes com palavras engajadas.

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ALTA TENSÃO Funcionários e aposentados
protestaram contra influência de Sarney,
Lobão e Cunha na Fundação Real Grandeza

Do lado oposto, o presidente de Furnas, Carlos Nadalutti, e o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão (PMDB). Foi mais um round na batalha que se arrasta desde 2007 – e o PMDB perdeu de novo. Em ocasiões anteriores, peemedebistas, como o ex-presidente da empresa Luiz Paulo Conde, já tinham tentado destituir a diretoria de investimentos (que controla o bolo orçamentário) e o presidente. No lugar, entrariam apadrinhados políticos. Na semana passada, depois de polêmica na qual até o presidente Lula se envolveu, o pedido de destituição foi retirado da pauta do conselho deliberativo do fundo. A argumentação: "A proposta não tinha respaldo dos conselheiros nem poderia ter sido feita da forma que foi, segundo o regimento interno do fundo", afirmou o conselheiro Átila de Castro.

"Querem (o PMDB) usar o fundo para fazer caixa de campanha", acusou o presidente do Sindicato das Empresas de Previdência Privada do Rio de Janeiro, Aristóteles Aroeira. Mediante um quadro de acusações graves, como essa, o presidente Lula chegou a pedir, na véspera, o cancelamento da reunião.

Não foi possível suspender o encontro, mas o resultado inócuo permite que se tenha mais tempo para debates. O ministro Lobão, no entanto, já declarou que pedirá à Controladoria-Geral da União uma auditoria nas contas da fundação. Em tom agressivo, Lobão acusou os gestores de "bandidagem completa". Em comunicado, Furnas justifica a proposta devido a "dificuldades no relacionamento com a instituição". Argumenta ainda que diretores teriam prorrogado seu mandato unilateralmente e se negado a prestar informações financeiras.

As alegações são contestadas veementemente. "O presidente de Furnas tem obrigação de conhecer os detalhes do estatuto. Se está dizendo isso agora, só pode ser por má-fé ou um desconhecimento que ele não deveria ter", disse o presidente do Real Grandeza, Sérgio Wilson Fontes. O consenso no setor é de que sua gestão faz um bom trabalho. Sem dúvida nenhuma, vai ter próximo round – talvez com a participação mais visível do deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que indicou Conde para a presidência da estatal em 2007 e, embora negue, é apontado pelos funcionários como articulador do partido na tentativa de controle da Fundação Real Grandeza.