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Fazia tempo que a advocacia brasileira não colhia uma derrota tão humilhante como a que se viu dias atrás no Supremo Tribunal Federal. No julgamento do mensalão, todos os 40 envolvidos se tornaram réus e 80% das denúncias foram acolhidas, numa goleada histórica. Alguns dirão que as provas levantadas pelo procurador-geral Antonio Fernando de Souza eram tão consistentes que a missão dos advogados era impossível. Outros afirmarão que a pressão da sociedade pelo fim da impunidade contagiou a mais alta corte do País. Há, no entanto, uma terceira hipótese. Não teriam falhado os mais consagrados criminalistas brasileiros?

Senão, vejamos. Um deles, falando em nome de diretores do Rural, comparou seus clientes a “perseguidos políticos da ditadura”. O representante do ex-ministro José Dirceu iniciou sua defesa dizendo estar com as “mãos trêmulas” e qualificou a denúncia como “uma peça de ficção”. O advogado de José Genoino afirmou que seu cliente foi incluído na denúncia por “mero capricho”, esquecendo- se de que foi ele quem avalizou os empréstimos ao PT. E o representante de Delúbio Soares, além de utilizar o adjetivo “imprestável” para a denúncia, exaltou a “vida modesta” do cliente.

Será que não tinham nada mais convincente a apresentar, além dos arroubos retóricos? Convém lembrar que quase todos os denunciados são réus confessos. Muitos admitiram a prática de caixa 2 ao longo da CPI dos Correios. Os políticos já não negam os saques feitos no Rural. E o próprio presidente Lula, numa entrevista em Paris, disse que o PT apenas fez o que todos os outros partidos sempre fizeram no Brasil. Ora, se nem o presidente da República negou a existência de um crime, como podem os advogados vir falar em “ficção”? Será que acham que somos todos idiotas? Se os réus não abrirem os olhos, já estarão com o bilhete comprado para a condenação.