A vida da agente de viagens Maria Tereza
Bretas, 58 anos, mudou completamente
nos últimos 20 dias. Ela conseguiu se livrar
de uma dor lancinante e diária nas costas e
na perna direita com a qual dormiu e acordou
durante três anos. Nesse período, consultou cinco médicos. Porém, só no final de junho, na sexta consulta, soube que a dor provinha de uma pequena hérnia de disco situada na coluna lombar. O tratamento de Maria Tereza combinou remédios com
a proibição de carregar peso e a interrupção das aulas de musculação e aeróbica. Se estiver recuperada até o final deste mês, começará a fazer exercícios de fisioterapia para o fortalecimento da musculatura que dá sustentação à espinha, com o intuito de prevenir novas hérnias. “É menos complicado melhorar da hérnia do que eu imaginava”, diz Maria Tereza, que continua fazendo caminhadas e não precisou faltar ao trabalho.

Os discos intervertebrais funcionam como amortecedores entre as vértebras que compõem a coluna. Em seu interior, há um conteúdo gelatinoso, envolvido por um anel fibroso. A hérnia se forma quando há o rompimento do anel, causado por uma sobrecarga na espinha, e o conseqüente vazamento do material gelatinoso. Se esse conteúdo pressiona uma das estruturas nervosas da área da coluna, vem a dor, que se irradia para a perna. Além disso, há risco de incontinência urinária.

Hoje, porém, como comemora a
agente de viagens Maria Tereza, os avanços na compreensão da hérnia
de disco permitem aos especialistas adotar tratamentos menos radicais
do que colocar o paciente de repouso
por dois meses, como antigamente.
As terapias, que combinam analgésicos, antiinflamatórios, antidepressivos (têm ação sobre a dor) e até anticonvulsivos (atuam nos nervos, diminuindo a transmissão das informações de dor
ao cérebro), também se mostram capazes de acelerar a recuperação. Em muitos casos, no entanto, basta poupar o corpo de esforços. “A maioria das hérnias regride e deixa de causar sintomas com medidas simples, sem cirurgia”, explica Fernando Cavalcante,
do Recife, presidente da Sociedade
Brasileira de Reumatologia.

Na verdade, o que muita gente ainda acredita é que a solução da hérnia de disco é quase sempre cirúrgica. Isso é um engano. Segundo as estatísticas internacionais, só um em cada dez pacientes realmente precisa ser operado. “Pensa-se em cirurgia se o paciente não melhora depois de dois meses de tratamento clínico, se os sintomas continuam piorando e se há perda de movimentos”, explica o cirurgião Alexandre Fogaça, do Hospital das Clínicas de São Paulo. A reumatologista Evelin Goldenberg, professora da Universidade Federal de São Paulo, reforça. “O tratamento clínico alivia a dor combinando medicamentos e repouso breve, de dois dias a duas semanas”, garante.

Este consenso está fundamentado em estudos comprovando que, depois de cinco anos, o bem-estar dos pacientes que se submeteram a tratamentos sem cirurgia (nos casos em que a operação não era a única opção) equivale ao de pessoas operadas. No entanto, embora sejam um recurso para ser usado com extrema parcimônia, os procedimentos cirúrgicos também apresentam avanços. Em alguns hospitais, os médicos recorrem a técnicas cada vez menos agressivas. Uma delas consiste na remoção da hérnia por endoscopia, com cortes pequenos, o que permite ao paciente voltar para casa no mesmo dia e retornar ao trabalho na semana seguinte. No entanto, na maioria das instituições públicas ainda prevalece a cirurgia tradicional, com cortes maiores e recuperação de 60 dias. “O médico precisa de treinamento e equipamento caro para operar por via endoscópica”, diz Fogaça, do HC/SP. Nesse hospital, está em andamento um estudo comparativo do custo-benefício dos dois métodos para o sistema de saúde.

Outros procedimentos também buscam abreviar a recuperação do paciente. Entre eles está o uso de cateteres para diminuir a pressão dentro do disco por meio de geração de calor ou da remoção parcial da hérnia. “No entanto, essas técnicas têm indicação restrita a hérnias pequenas e que precisam ser melhor conhecidas pelos médicos”, diz o neurocirurgião e especialista em coluna Ailton Moraes, da Clínica Vertebrata, de Porto Alegre. Fundamental mesmo é procurar um médico logo que a dor nas costas aparece. Esperar mais de um mês para buscar diagnóstico aumenta as chances de a doença evoluir e detona a qualidade a vida. Afinal, tudo fica muito chato quando se convive com a dor.

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