Um Gustavo Kuerten dos tacos ou um Tiger Woods brasileiro. É com isso que sonham os dirigentes do golfe brasileiro e seus praticantes. Apesar de o esporte estar em pleno crescimento no País, a opinião de todos é unânime: falta um Guga, uma Daiane dos Santos ou um Robert Scheidt no golfe para fazê-lo explodir, como já ocorreu em todo o mundo. No Brasil, há apenas 25 mil praticantes. É pouco, mas já é uma tacada a ser comemorada. Há cinco anos, não passavam de 15 mil. Nos EUA, terra de Woods, são 35 milhões de jogadores.

No começo de junho, a torcida paulista pôde acompanhar de perto a performance dos principais candidatos a ídolo do golfe brasileiro. Eles participaram do
American Express Brasil Classic, competição válida pelo Tour de Las
Americas (TLA), principal circuito de golfe da América Latina. O torneio
distribuiu US$ 70 mil em prêmios e atraiu 106 golfistas de 12 países ao São Fernando Golf Club, em Cotia. As estrelas foram os brasileiros que jogam ou jogaram no Exterior, como Alexandre Rocha, Philippe Gasnier e Rafael Navarro – segundo, terceiro e quarto colocados na competição.

O paulistano Alexandre Rocha, 28 anos, perdeu o primeiro lugar no American Express Brasil Classic por apenas um palmo. Essa foi a distância (cerca de 20 centímetros) que sua bola passou do buraco no play off contra o argentino Miguel Fernandez, vencedor do torneio. Um palmo também separou a bola do alvo e Rocha de um sonho em novembro de 2004. Se a bolinha brasileira tivesse caído no buraco 18 do St. Johns Golf & Country Club, na Flórida, ele teria passado para a última fase da seletiva por uma vaga no PGA Tour, principal circuito profissional do mundo, e conquistado o direito de disputar o Nationwide, torneio secundário de golfe dos EUA e celeiro de jogadores bem-sucedidos. “Foi um soco no estômago que me tirou o ar e me deixou sem reação nenhuma”, resumiu Rocha, que já se considera preparado para tentar outra vez no segundo semestre do ano. Até lá, e com patrocínio da Nike, segue disputando o circuito canadense.

Pizza – A classificação para o circuito profissional americano não é fácil. A cada ano, são cerca de oito mil candidatos para apenas 30 vagas, que dão a chance de lutar por muito dinheiro ao longo do ano. Não é preciso citar como exemplo Tiger Woods, que ganha cerca de US$ 80 milhões ao ano. Basta falar do ex-entregador de pizzas Tim Petrovic, que entrou para o PGA aos 36 anos e venceu seu primeiro torneio este ano, aos 39 anos, e levou US$ 1 milhão.

Outro brasileiro que também teve de rumar
para fora do País para tentar o sucesso no
golfe é o carioca Philippe Gasnier, 25 anos.
Atual campeão brasileiro, Gasnier também vive
nos EUA e disputa o Gateway Tour, minicircuito
com torneios e prêmios de US$ 180 mil cada.
No American Express Brasil Classic, Gagá,
como é chamado, tomou duas tacadas de penalidade por uma infração às complicadas regras do esporte e perdeu as esperanças de vencer o torneio no último dia de competição.
No mesmo dia, rumou de volta para os EUA,
onde disputou, também em junho, a última
etapa classificatória para o US Open, um dos principais torneios do mundo. Também não foi desta vez que deu Brasil. Por três tacadas, Gagá não se classificou.

A namorada de Gasnier é o que o golfe brasileiro tem de melhor atualmente. Trata-se da carioca Candy Hannemman, 25 anos, com quem Gagá juntou os trapos – ou melhor, os tacos – na Flórida. Desde o ano retrasado, Candy disputa o LPGA, principal circuito feminino de golfe do mundo. No ano passado, ela obteve US$ 160 mil em prêmios e chegou entre as dez primeiras em três competições, terminando o ano como 68ª do ranking feminino dos EUA. “Adoro a pressão das competições”, diz Candy, que vive nos EUA desde os 16 anos e trocou a família pelo golfe. “Os dois possuem muita técnica e determinação e têm tudo para brilhar lá fora”, diz Rafael Navarro, 52 anos, que disputou no ano passado o Champions Tour, torneio de veteranos dos EUA, que reúne mitos como Jack Nicklaus, considerado o maior golfista de todos os tempos.

“É triste, mas é impossível viver no Brasil apenas disputando torneios de golfe”,
diz o gaúcho Rafael Barcellos, que terminou 2004 como primeiro colocado do
ranking nacional. Mesmo assim, boa parte de sua receita vem das cerca de 40
aulas que dá por semana, já que não há por aqui torneios de golfe suficientes
para remunerar bem os profissionais brasileiros. “Quanto mais torneios houver, mais bem remunerado será o profissional e maiores serão as chances de ele crescer e melhorar o seu jogo”, diz Albert Gauss, diretor da Tee Off, criadora do
Brasil Classic. Por enquanto, o tigre brasileiro do golfe terá mesmo de se desenvolver em outras paragens.