Ano eleitoral é ano de os políticos saírem distribuindo pacotes de bondades com seu dinheiro. A lógica para quem quer se eleger é simples. Escolha um grupo qualquer – pode ser funcionários públicos, aposentados, professores, médicos, doentes cardíacos, plantadores de amendoim do Estado do Amapá com mais de 93 anos e meio ou qualquer outro. Agora, crie ou modifique uma legislação para que este grupo receba um benefício novo ou maior. Os diretamente beneficiados lutarão pela aprovação da medida e apoiarão quem a propôs. Enquanto isso, o grupo que pagará a conta – toda a sociedade – é difuso demais para se organizar contra o aumento de despesas e punir o político gastão. Assim, gastos públicos e impostos não param de aumentar.

Muitas vezes, os aumentos de despesas são aprovados sem estimativas de custos. Mesmo quando elas existem, nunca nos contam como os gastos serão financiados. Só há três alternativas: corte de outro serviço público, emissão de dívida pública ou aumento de impostos. Cortes de gastos são raros. Emitir dívida pública é uma solução que parece indolor: posterga a conta, enquanto os benefícios políticos da gastança são imediatos. Quando os aumentos de impostos chegam, ninguém consegue relacioná-los aos gastos. Mais cedo ou mais tarde, o crescimento do endividamento será financiado através de elevação de tributos, aceleração da inflação ou calote da dívida. No final das contas, as duas últimas são apenas formas disfarçadas de – surpresa – aumento de impostos.

Para calcular o custo per capita de cada gasto público, é só dividir seu custo total por 190 milhões de brasileiros. E para estimar, aproximadamente, a parte da conta que cabe à sua família, basta saber quantas vezes sua renda familiar é maior ou menor que a renda per capita brasileira que, atualmente, é de R$ 1.370 por mês.

Um exemplo. O Congresso aprovou, recentemente, um aumento de 7,7% para as aposentadorias e eliminou o fator previdenciário, que reduz os benefícios de quem se aposenta muito jovem. O custo anual da medida é de R$ 5,6 bilhões ou cerca de R$ 30 por brasileiro. Um casal com renda total de R$ 5.500 por mês – cerca de quatro vezes a renda per capita brasileira – acabará pagando R$ 30 x 4, ou seja, R$ 120 a mais de imposto anualmente para financiar o aumento das aposentadorias.

Cada vez que um político criar algum pacote de “bondades”, saiba o quanto ele vai lhe custar e decida se este é um bom uso do seu dinheiro. Se for, ótimo – e há vários gastos públicos que considero justificados e pago feliz. Se não, mande um e-mail para todos os congressistas do seu Estado defendendo o que acredita. Você já trabalha quatro meses e meio por ano só para pagar impostos e tem todo o direito de não querer pagar ainda mais. Caso seus congressistas se posicionem contra seus interesses, guarde os nomes de quem não trabalhou por você e nunca mais os eleja.

Por fim, uma sugestão para quem quiser o meu voto. Impeça seus colegas de fazerem benfeitorias com o meu dinheiro como se ele nascesse em árvores. Aprove uma lei exigindo que qualquer nova legislação que implique em aumento de gastos só possa ser votada com fonte específica de receita para financiá-la. Garanto que não será só o meu voto que você ganhará.

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias