chamada.jpg
VIRADA
Gabeira é aclamado como candidato ao governo do
Rio pelo PV, com o apoio do DEM e do PSDB

selo.jpg

Sob o pretexto de defender a pré-candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, de ataques de ex-militares linha dura na internet, a ex-prefeita Marta Suplicy meteu a mão num vespeiro. Ao discursar para petistas no domingo 17, na zona leste de São Paulo, ela referiu-se aos dias da luta armada e afirmou que o então jornalista Fernando Gabeira foi o escolhido para dar um tiro de misericórdia no embaixador americano Charles Elbrick, em setembro de 1969, caso tudo desse errado na mais famosa operação dos movimentos de luta contra a ditadura militar. Sequestrado por ativistas da ALN e do MR-8 no Rio, Elbrick foi solto após tensa negociação que permitiu a libertação e o exílio de 15 presos políticos, entre eles os líderes estudantis José Dirceu e Vladimir Palmeira. De fato, Gabeira, hoje deputado federal pelo PV-RJ, participou da ação, mas sem a responsabilidade que Marta lhe atribui. Mesmo assim, Marta disparou contra o ex-companheiro petista: “Vocês notaram que do Gabeira ninguém fala? Esse, sim, sequestrou. Ele era o escolhido para matar o embaixador”. A polêmica ex-prefeita associou a suposta blindagem de Gabeira à coligação que ele fez no Rio com tucanos e democratas: “Ninguém fala porque o Gabeira é candidato ao governo do Rio e se aliou ao PSDB”.

 img1.jpg
EXÍLIO
Gabeira (no destaque)
antes de embarcar para a Argélia

Ao contrário dos disparates que cometeu em outras oportunidades, desta vez Marta não pode alegar ingenuidade. Sabia exatamente em quem estava atirando e por quê. Mas deu um tiro no próprio pé. A acusação que fez a Gabeira atingiu em cheio vários dirigentes do PT, que se orgulham da ação armada durante a ditadura. Como era de se esperar, a reação mais contundente partiu do ministro de Comunicação Social, Franklin Martins. Em agosto de 1969, Franklin e Cid Benjamin, então militantes do MR-8, tiveram a ousada ideia de sequestrar Elbrick. E pediram apoio à ALN, de Carlos Marighella, para levar o plano adiante. “O Gabeira não foi escalado. Não tinha ninguém escalado para matar. A participação do Gabeira era basicamente de responsável pela casa”, explicou Franklin, com a autoridade de quem foi mentor da operação. O ex-guerrilheiro Paulo de Tarso Venceslau, outro participante, também ficou indignado. “A Marta não entendeu nada, desconhece tudo. Quando a gente não sabe de alguma coisa, o silêncio vale muito”, disse Venceslau à ISTOÉ. Fernando Gabeira, por sua vez, preferiu desqualificar a declaração da ex-prefeita. “Já faz alguns anos que ignoro as coisas que a Marta diz”, afirmou Gabeira.

img.jpg

 

“Agora vou precisar trabalhar”

ISTOÉ – A Marta Suplicy diz que, no sequestro de 1969, o sr. foi o escolhido para matar o embaixador Charles Elbrick, em caso de fracasso na troca de prisioneiros. O que acha de Marta remexer o baú da guerrilha no regime militar?
Fernando Gabeira – Eu já esqueci. Estou totalmente desmotivado a falar disso. Não fico chateado. Mas espero que daqui a alguns anos Marta me peça desculpas. Certamente vou aceitar, porque não tenho ressentimentos.

ISTOÉ – Sua filha Maya é tetracampeã mundial de surfe em ondas grandes. Isso atrai votos dos jovens para sua campanha?
Gabeira – Quando a campanha acontece, ela costuma sair comigo, dependendo da temporada dela na Indonésia, de onde ela estiver. Acho que pode eventualmente atrair votos, mas não é nossa intenção. Quando Maya anda comigo, é para dar força ao pai, dizer: “Papai, não fala besteira.”

ISTOÉ – O sr. está no quarto mandato de deputado. Se perder a eleição para governador do Rio, pretende continuar na política?
Gabeira – No Parlamento, tenho a impressão de que meu trabalho está encerrado. Já fiz um balanço de minha atuação e vou divulgá-lo num panfleto. Uma coisa é certa: em qualquer circunstância, agora vou ter que trabalhar. Meu primeiro problema não vai ser voltar ou sair da política, mas como vou me sustentar. Acho que será escrevendo, fotografando, fazendo programa de rádio. Se tiver dificuldades, posso voltar para a Suécia e cortar grama em cemitério.

ISTOÉ – E o que o sr. tem em comum com o Cesar Maia?
Gabeira – Existe um longo e profundo processo de dominação do PMDB em nosso Estado. Esse processo de dominação se estende sobre as prefeituras. Teve ramificações até no Tribunal Regional Eleitoral. É um polvo. Para lutar contra ele, você precisa unir forças e transformar, avançar mais e preparar o Rio para os desafios, que estão muito voltados para o petróleo.