A cada eleição repete-se a cena: funcionários públicos federais saem às ruas, cruzam os braços e aumentam a pressão por reajuste de salários, apostando que governantes vão ceder para que não ocorram tumultos na campanha de seus candidatos. O casuísmo é claro. A greve, sob o manto da ilegalidade – já decretada pela Justiça –, desmantela serviços essenciais e irrita a população. Nesta temporada, a menos de cinco meses da votação nas urnas para a escolha do novo presidente, de governadores estaduais e parlamentares, quase 60 mil funcionários públicos já paralisaram atividades para pedir reajustes. São servidores do Incra, do Ibama, de diversos setores da educação e até do Judiciário e do Ministério Público. Esses últimos estão em estado de greve, mas à espera por entendimentos sobre um projeto de lei que pode instituir reajustes de até 56% nas carreiras de técnicos, analistas e auxiliares. No mundo fantasioso desses profissionais, a causa é justa e o momento é agora.

A absoluta falta de isonomia com o que acontece no campo da iniciativa privada é um mero detalhe. Enquanto a esmagadora maioria dos trabalhadores brasileiros está em busca da recuperação de parte do seu poder de compra – que no caso de um cenário com inflação de um dígito não estimula pretensões maiores –, esses servidores listam vantagens inomináveis para o cidadão comum. A citar: redução no intervalo das promoções através de decreto, gratificações de toda ordem e regime de horas trabalhadas bem aquém da média nacional. Quem não sonharia com benesses como essas? O governo, em todas as suas instâncias, já é, disparado, o maior empregador do País. E a máquina não para de inchar, à base de apadrinhamentos políticos e troca de favores. É evidente que muitos dos servidores públicos seguiram uma longa trajetória de preparação técnica e enfrentaram concursos para chegar aonde estão. Mas o problema é o conceito de privilégios que ainda prevalece nesse meio e que contamina a mente até mesmo dos novos postulantes a vagas – fazendo jus à má fama de que a burocracia estatal é conduzida por um plantel de funcionários ineficientes que, devido à estabilidade, entregam um serviço ruim e só pensam em acumular mais e mais vantagens.


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