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RITO DE PASSAGEM
David Cameron, o novo primeiro-ministro,
com a rainha Elizabeth

O Partido Trabalhista dominou a política da Inglaterra por 13 anos. Estava no poder desde a morte de Lady Di, em 1997, quando Tony Blair derrotou John Major. Mas, na terça-feira 11, os trabalhistas saíram de cena, devolvendo o poder ao Partido Conservador. Com a renúncia de Gordon Brown, o nobre inglês David Cameron tornou-se, aos 43 anos, o mais jovem primeiro-ministro desde 1812. Há duas explicações para essa guinada histórica da esquerda para a direita. Em parte, ela refletiu a baixa popularidade do escocês Brown. Mas o que mudou mesmo o humor dos eleitores do Reino Unido foi o péssimo desempenho da economia nos últimos dois anos.

Dona da libra esterlina, a moeda mais forte do mundo, a Inglaterra mergulhou de cabeça na recessão provocada pela crise do setor financeiro. O desemprego cresceu, o déficit público aumentou e o povo britânico responsabilizou os trabalhistas, do Labour Party. Agora se prevê uma onda de protecionismo que pode prejudicar economias emergentes, como a brasileira. “Nenhum outro governo dos tempos modernos recebeu uma herança econômica tão terrível”, afirmou Cameron, em sua primeira entrevista coletiva à frente da Downing Street 10, a residência oficial do primeiro- ministro.

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Em frente à residência oficial,
com a mulher, Samantha

O Partido Conservador, chamado de Tory, está de volta, porém sem a força dos tempos da dama de ferro Margaret Thatcher, que comandou a Inglaterra de 1979 a 1990. Para governar sozinho, precisaria ter conquistado 326 das 650 cadeiras do Parlamento. Mas só conseguiu eleger 306 parlamentares. Por isso, numa solução à inglesa, os conservadores se aliaram aos liberaisdemocratas, lib-dems do carismático líder Nick Clegg, que se tornou viceprimeiro-ministro. Embora sejam duas correntes antagônicas, selaram um acordo para governar por cinco anos.

Os libs-dems aceitaram um drástico choque econômico, com redução de seis bilhões de libras nos gastos públicos ainda este ano e aumento de impostos. Durante a campanha, Clegg defendeu o ajuste do orçamento, mas somente depois da recuperação econômica. Em troca, os conservadores aceitaram se submeter a um plebiscito para mudar as regras eleitorais, favoráveis ao bipartidarismo de tories e labours. “A prioridade dos conservadores será enfrentar o aumento do déficit fiscal”, diz Lia Valls, especialista em análise econômica do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas, do Rio de Janeiro.

Por mais difícil que pareça a aliança, só foi possível porque os conservadores passaram por um processo de modernização e se tornaram mais atraentes aos eleitores. O bom relacionamento de Cameron com a imprensa lhe rendeu o apelido de “Tory Blair”. Casado há dez anos com a também nobre Samantha Sheffield, grávida de seis meses, o primeiro-ministro já tem dois filhos e sempre fez o tipo pai de família. Resistentes a políticas de cunho social, os tories prometem aumentar os investimentos em saúde na gestão Cameron. “Os conservadores não são reacionários nem um partido de velhos gagás. E, pelo acordo com os libs-dems, mostraram que estão abertos a receber novas ideias”, diz o professor Ricardo Wahrendorff, do Instituto de Ciências Políticas da Universidade de Brasília.