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DECOTE
Sharon Stone e Gilles Jacob, que não quis “espetar
o célebre peito” da atriz

Nas recepções de um festival concorrido como é o de Cannes, aberto na quartafeira 12, a aproximação de um astro de Hollywood se faz notar pelo próprio espalhafato. “A estrela francesa conta com o carro do festival e se vê desamparada se ele não estiver lá. A americana tem dez pessoas e dois cortejos para recebê-la e sobe em um terceiro que veio como reforço.” Quem faz essa observação é um homem que  entende como ninguém de atores e cineastas famosos e de suas vaidades e idiossincrasias: o francês Gilles Jacob, presidente do Festival de Cannes e há 32 anos à frente desse que é o maior evento do gênero no mundo. O cotejamento entre as estrelas está no livro “Cidadão Cannes – O Homem por Trás do Festival” (Companhia das Letras), que reúne revelações de bastidores e curiosidades inéditas sobre alguns dos mais célebres nomes do cinema mundial – gente como Clint Eastwood, Orson Welles, Jack Nicholson ou Sharon Stone, num verdadeiro A a Z do mundo da fama.

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Dona do mais famoso e sensual cruzar de pernas do cinema, Sharon foi condecorada como Oficial das Artes e das Letras na edição de 2002. Jacob tinha de enfiar o broche no vestido da atriz. Foi quando a tocou, constrangido, diante de um paredão de fotógrafos: “Não queria espetar o célebre peito. Imaginem só se naquele instante crucial uma gota de sangue aflorasse.”Para convencer Clint Eastwood a ser presidente do júri, o francês foi almoçar com ele em Los Angeles. No meio da refeição, sentiu-se confuso com a tremedeira geral. Era um terremoto de 5,9 graus. Para surpresa de Jacob, Eastwood não fez nenhum comentário sobre o sismo: acabou de comer e pediu a conta (“check, please”), o que diz muito de seu perfil impassível. “Com ele nada podia me acontecer”, anota o memorialista. Outro encontro desproporcional se dá com o gigante Orson Welles. Ele é lembrado, em 1976, vociferando contra Hollywood com seu “nariz ridiculamente pequeno” num “invólucro carnal de perímetro alarmante”: “observe-os (os executivos dos estúdios) se pavonearem com sua pele bronzeada, suas pequenas transas lamentáveis, sua cocaína ao alcance das mãos.”

Testemunha de  indiscrições em noites borbulhantes de champanhe, Jacob não quis, obviamente, queimar seu filme. Mas  avança em campos que coloca em risco seu status de anfitrião. Ao comentar o lado sedutor de Jack Nicholson, põe a nu seu charme de dom-juan: a voz aguda e as sobrancelhas erguidas em semicírculo “com que envolve sua presa para melhor paralisá-la”. A atriz espanhola Victoria Abril não foi esquecida em triunfal entrada: ao ser recepcionada no topo do hall principal, deixou ver por trás o que seu curto vestido Jean-Paul Gaultier já pouco escondia. Além do glamour e da programação de prestígio, Cannes sempre teve mais esse diferencial: a sua escada vermelha é, há 63 anos, palco de muitas saias-justas, agora compiladas na obra de Jacob.

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