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Enquanto os países desenvolvidos se desdobram para tentar sair da crise sem muitos arranhões, os mercados emergentes se divertem com extravagâncias. No momento, dois bilionários russos disputam a supremacia do mundo náutico com superiates. Roman Abramovich, dono do clube de futebol inglês Chelsea e 50º homem mais rico do mundo de acordo com a revista “Forbes”, deve estourar a garrafa de champanhe no casco do Eclipse, que acaba de sair do estaleiro, no segundo semestre deste ano. O iate é o maior do mundo, com 540 pés (164,5 metros), desbancando o iate do sheik Mohammed bin Rashid al-Maktoum, recordista anterior, por 20 pés. Já o iate de 394 pés (120 metros) de Andrey Melnichenko se destaca por ser o mais espetacular visualmente – foi concebido pelo designer Philippe Starck.

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Abramovich tem experiência com iates – este é o quinto da sua frota particular. Com 43 anos, divorciado, o bilionário namora uma estilista russa, Daria Zukhova, 28 anos. O novo brinquedinho está avaliado em R$ 1,89 bilhão e foi construído pelo Blohm & Voss, mesmo estaleiro que fez o navio de guerra alemão Bismark, usado na Segunda Guerra Mundial. São dois helipontos, duas piscinas (uma delas conversível em pista de dança), 24 suítes com tevês de plasma, banheiras, pista de dança interna, restaurante e capacidade para uma tripulação de 60 pessoas. A suíte master tem teto retrátil, com paredes de vidro à prova de balas. O iate tem ainda bateria antimíssil, submarino para fugas de emergência e um mimo para proteger a privacidade dos convidados: escudo antipaparazzi a laser, que bloqueia os sensores de luz da câmera, inviabilizando a foto.

Se não bate o Eclipse em gigantismo, o “A”, iate batizado com as iniciais de Andrey Melnichenko, 38 anos, e sua mulher, a supermodelo sérvia Aleksandra, 33 anos, é o mais luxuriante. O bilionário é um czar do mercado financeiro, do aço e da indústria de fertilizantes. Recluso, manteve todos os contratos de construção do iate sob cláusula de confidencialidade. O projeto de Starck tem formas orgânicas e uma quilha que lembra uma lâmina cortando o oceano. Embora menor do que outros iates, o A é o mais abundante em detalhes luxuosos. Muitas peças usadas nele e na decoração são customizadas. Itens de acabamento do banheiro, por exemplo, chegaram a custar R$ 73 mil. O barco saiu por mais de R$ 550 milhões – só os botes de apoio do barco são praticamente mini-iates, de 36 pés (11 metros), e custaram mais de R$ 1,8 milhão cada um. Desde que foi lançado ao mar, começaram a pipocar projetos copiando as formas idealizadas por Starck.

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Na decoração, o barco não lembra em nada os iates tradicionais. Na área útil interna, de 2.192 metros quadrados, nada de sofás estofados e paredes laminadas com madeira. Há mesas de cristal Baccarat, acabamentos em prata polida e laqueado branco. Muitos ambientes têm espelhos do teto ao chão. Segundo Starck, representariam “beleza matemática”, que também se refere ao gênio matemático de Melnichenko (ganhou fortunas como banqueiro). A cama da suíte master gira em qualquer direção, para acompanhar o nascer ou pôr-do-sol. O acabamento das paredes tem couro de cabra pespontado à mão e couro branco de arraia. A ideia de Starck era fazer algo diferente dos megaiates que ele considera manifestações de riqueza e poder vulgares, elegendo formas orgânicas que o integrassem ao mar e à natureza. Assim como o megaiate de Abramovich, a segurança é reforçada, com sistemas de identificação digital e vidros à prova de balas. São 44 câmeras de vigilância e mais de uma dúzia com sistemas de detecção de movimento e captação de imagens noturnas por sinal infravermelho.

A tendência de barcos cada vez maiores se espalha em ondas pelo mercado. A recessão pode ter afetado o mercado “médio” de iates, dos milionários que tiveram suas fortunas afetadas. As encomendas de superiates, acima de 250 pés (76 metros), aumentaram acima de 20% em 2009, de acordo com a revista “Showboats”. Márcio Schaefer, presidente da Schaefer Yachts, afirma que, mesmo em mercados mais modestos, como o brasileiro, cresce a participação de modelos maiores. “O padrão de iates grandes era de 60 pés (18 metros). Hoje os de 80 (24 metros) são cada vez mais comuns”, afirma. Já a tendência de designers assinando barcos encontra resistência no setor náutico. “Projetos de barcos são muito específicos e delicados para serem trabalhados por designers”, diz Schaefer. “É capricho de um milionário exótico.”

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