img.jpg
NOVA FASE
Como candidata, Dilma quer
abandonar a imagem de tecnocrata

 selo.jpg

Guardado a sete chaves pelo marqueteiro João Santana, o programa do PT na televisão, que vai ao ar na quinta-feira 13, é o principal trunfo do staff de Dilma Rousseff para dar a arrancada decisiva na campanha da petista à Presidência. Nas últimas duas semanas, Dilma dedicou a maior parte de sua agenda à elaboração e gravação do spot que terá dez minutos de duração. Tudo foi produzido nos mínimos detalhes. Os assessores da ex-ministra apostaram no tom emocional, no linguajar mais simples e no gestual suave, com o objetivo de conquistar a simpatia dos telespectadores e, assim, encurtar a distância que a separa do pré-candidato do PSDB, José Serra. “Precisamos cativar o eleitorado. É hora de começarmos a mostrar nossa força”, pregou o deputado e ex-ministro Antônio Palocci durante reunião do PT na última semana. O programa ganha importância ainda maior pelo fato de ser exibido no momento em que a candidatura oficial enfrenta a sua maior turbulência. Além da estagnação de Dilma nas pesquisas de intenção de voto, partidos aliados como PP, PTB e PRB ensaiam uma debandada. Até mesmo o PMDB, irritado com o impasse das negociações nos Estados, adiou para junho a definição sobre a composição com o PT, e os próprios petistas ameaçam privilegiar disputas regionais em prejuízo do projeto nacional.

img1.jpg
CAMPANHA
Na disputa por votos, Dilma faz de tudo. Grava na casa de lavradores
na periferia e participa de comício da CUT no 1º de Maio

O comando da equipe de Dilma acredita piamente que o programa de 13 de maio, por sinal, data da Abolição da Escravatura, vai inaugurar um novo tempo na campanha à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Centrado na trajetória de Dilma, desde a sua infância em Minas Gerais, o filme será voltado para o público jovem e para as mulheres, segmentos do eleitorado que continuam refratários à candidata do PT, de acordo com as últimas pesquisas de opinião. Também serão ressaltadas as realizações do governo Lula, com ênfase nos programas sociais, como o Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida. Mas em vez de remeter ao passado e insistir somente nas comparações com o governo Fernando Henrique Cardoso, Dilma, pela primeira vez, discorrerá sobre o futuro. “A nossa campanha não vive só de passado. Ela é do presente e do futuro também. Até porque é importante lembrar que há muitos jovens que vão votar neste ano que não vivenciaram a experiência tucana”, disse o presidente do PT, José Eduardo Dutra, um dos coordenadores da campanha.

img2.jpg

O presidente Lula desempenhará papel importante, ao enaltecer a contribuição de sua candidata para o êxito do governo, à frente dos ministérios de Minas e Energia e Casa Civil. Uma novidade, porém, poderá ser percebida logo de cara. O eleitor verá Dilma, conhecida pela fama de executiva autoritária, sob nova roupagem, bem mais afável e descontraída. Fruto, aliás, do intenso treinamento que a ex-ministra vem realizando com a jornalista Olga Curado, que a partir de agora acompanhará Dilma em entrevistas e viagens. Na quinta-feira 6 foi assim. No primeiro debate com José Serra e Marina Silva, em Belo Horizonte, Olga estava lá. E Dilma foi só afagos aos dois adversários. Nas cenas externas, gravadas fora do estúdio, o programa tentará reforçar ainda mais essa imagem amistosa e tranquila que está sendo construída em torno de Dilma.

Ela conversará com as pessoas como se fosse uma entrevistadora. Um dos filmes foi gravado na terça-feira 27 no assentamento de trabalhadores rurais Pastorinhas, em Brumadinho, na Grande Belo Horizonte. Entre as perguntas feitas aos moradores locais, Dilma, de camisa vermelha e calça preta, questiona como os trabalhadores fazem o escoamento e lucram com a produção. A entrevistada, a lavradora Ieda Maria Oliveira Rocha, cita a importância de dois programas do governo federal, o Luz para Todos, que fornece energia à população rural, e o Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar, que garante a compra do que é produzido pelos lavradores. As famílias que vivem no assentamento ganham entre R$ 250 e R$ 300 por mês com a comercialização de beterraba, alface e cenoura. Para criar um ambiente mais intimista, o cenário foi montado dentro da própria casa da agricultora.

Dilma não divulgou as gravações do programa em sua agenda oficial para não dar munição aos adversários. Na tarde da terça 27, deixou Brasília em sigilo. Não avisou sequer alguns de seus mais importantes assessores. O compromisso só foi divulgado horas depois. O mesmo aconteceu na quarta-feira 28, quando a ex-ministra gravou trechos do programa no parque eólico de Osório, a 95 quilômetros de Porto Alegre. Ao escolher o local, o PT remete-se à atuação de Dilma como secretária de Minas e Energia do governo do PT gaúcho (1999-2002). À época, a petista era responsável por coordenar os estudos do potencial de geração de energia eólica no litoral do Rio Grande do Sul. “O parque eólico foi muito importante para a geração de empregos na região”, explicará o filme. Os demais trechos foram gravados no bunker de comunicação de Dilma, localizado no Lago Sul, em Brasília. Quem esteve por lá percebeu a intensa movimentação. Na quarta-feira 5, chamada às pressas por João Santana, Dilma teve de cancelar um compromisso em cima da hora para fazer ajustes na gravação. “Mudou tudo. Ela teve que correr para gravar”, alegaram seus assessores.

img3.jpg
MUDANÇA
Reservada, a ex-ministra agora teve de mudar a maneira
de ser e mostra intimidade com Serra

Em meio à edição final, um fato preocupou a cúpula da campanha da candidata petista. O Ministério Público Eleitoral emitiu parecer pedindo ao Tribunal Superior Eleitoral a cassação do programa e a aplicação de multa por suposta prática de campanha antecipada. A notícia gerou um corre-corre no QG do PT. Os advogados do partido entraram em ação, rapidamente, a fim de assegurar a exibição do spot. Na avaliação do MP, ao comparar a atual administração de Lula com o governo anterior, o PT utilizou o horário gratuito de 10 de dezembro de 2009 para promover a candidatura de Dilma. E repetiria a dose agora. No programa anterior, Dilma ainda era ministra da Casa Civil. A ação foi proposta pelo DEM e pelo PSDB. O jurídico do PT rebateu dizendo que a comparação entre as duas gestões é “método importante de fomento da discussão política no seio da sociedade”. Refeitos do susto, os petistas mostraram-se otimistas. “Confio no bom-senso dos juízes do TSE para que não haja suspensão”, declarou o deputado José Eduardo Cardozo. O caso está sendo analisado pelo ministro Aldir Passarinho Junior, corregedor-geral eleitoral do TSE.

img4.jpg
PRIVACIDADE PERDIDA
Dilma em um de seus passeios nas manhãs de Brasília

Com a exibição de 13 de maio, o staff da ex-ministra também pretende mandar um recado para o público interno do PT, que começa a se desgarrar em alguns Estados. Na última semana, o PT de Minas parecia decidido a lançar o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel ao Palácio da Liberdade. A decisão levou o PMDB, que cobra a adesão petista à candidatura do ex-ministro Hélio Costa, a adiar para junho o apoio oficial a Dilma. Foi preciso que bombeiros do PT entrassem em ação para impedir o pior e reforçar a prioridade absoluta ao projeto nacional. “Vamos esperar a poeira assentar, mas não há o que temer. É só uma questão de tempo”, afirmou um integrante da equipe de Dilma, garantindo que Pimentel vai deixar o caminho livre para Costa. Ao fim e ao cabo, o PMDB ficará satisfeito e confirmará o presidente da Câmara, Michel Temer, como vice de Dilma. Mas há preocupação com outros partidos na base aliada, que flertam com José Serra. Na terça-feira 4, o PSC anunciou apoio ao candidato tucano. E o presidente do PP, Francisco Dornelles, depois de almoçar com Dilma em Brasília, pôs na mesa uma sobremesa indigesta: o partido manterá a neutralidade até a convenção. “A executiva do PP liberou os diretórios regionais para fazer alianças com os partidos que acharem melhor”, disse Dornelles, que aguarda convite para ser vice de Serra.

Apesar das dificuldades iniciais, os petistas contam com outro trunfo para virar o jogo da sucessão. Acreditam que quando Lula começar a pedir votos tudo vai mudar. A licença do cargo, na reta final da disputa, é uma possibilidade. O comando da campanha avalia que o presidente poderá agregar no mínimo dez pontos nas intenções de voto de Dilma ao mobilizar a militância e os representantes de sindicatos. Curiosamente, a própria Dilma discorda dessas avaliações. “Na verdade, o presidente em nenhum momento deixou de estar presente na campanha”, constata a ex-ministra. Mas, de acordo com um especialista em pesquisa, dois terços do eleitorado já definiram seu voto e ainda está em jogo a opção de cerca de 43 milhões de eleitores. Políticos experientes costumam dizer que a eleição só engrena a partir do início do programa eleitoral gratuito na televisão, em agosto. É nessa tradição que se fia a campanha de Dilma. O PT espera que a arrancada seja dada no dia 13.

g_dilma.jpg
PELA VIDA AFORA
Filha de um advogado búlgaro, Dilma passou a infância em Belo Horizonte.
Jovem, entrou para a luta armada. Na democracia, foi secretária do governo gaúcho
e depois se tornou ministra de lula, passou por uma remodelagem e
enfrentou um câncer até ser escolhida candidata do PT ao Planalto