Todo pai se preocupa com aquele filho que passa horas diante de um videogame. A criança fica ali, absorta, e muitas vezes perde a sua conexão com o mundo concreto. É como se, com os olhos na tela e o joy stick na mão, migrasse da vida real para uma realidade nova, virtual, em que quase tudo é permitido. Até mesmo atirar, matar e atropelar velhinhas indefesas na calçada – num desses games, o GTA, o jogador se coloca na pele do mafioso Tommy Vercetti e sai por aí atrás de drogas e dinheiro, num sombrio mundo sem lei.

Talvez tenha sido esse o problema da família Tuma. Na semana passada, descobriu-se que o delegado Romeu Tuma Jr., secretário nacional de Justiça, era amigo íntimo de Paulo Li, o chefe da máfia chinesa e um dos maiores contrabandistas do País. Mais do que amigos, eles eram quase irmãos. A tal ponto que podiam até dividir o mesmo quarto em viagens pelo País. E, enquanto Tuma legalizava a situação de imigrantes ilegais, Li trazia da China badulaques importados para o delegado, como o seu console e seus joguinhos de Wii. Talvez nunca antes na história da humanidade, e não apenas deste país, tenha vindo à tona um caso tão chocante – em que se flagrou uma autoridade policial de alta patente demonstrando camaradagem fraterna com um criminoso notório.

Ao ser confrontado com o caso, Tuma Jr. não tinha respostas. E justificou a amizade com Paulo Li, que possuía até cartão de visita como “assessor especial” do governo, dizendo que “não é racista”. Provavelmente, quis assegurar que o tapete vermelho do Ministério da Justiça também será estendido a bandidos de outras nacionalidades: contrabandistas paraguaios, mafiosos japoneses da Yakuza e – por que não? – contraventores brasileiros.

Seu pai, o também delegado Romeu Tuma, ex-diretor do Dops, foi compreensivo e preferiu passar a mão na cabeça do filho. Disse que “amizade qualquer um tem”. Não, senador. Manter laços com contrabandistas não é recomendável a um agente da lei. Até porque pode-se confundir a realidade de um com a do outro – e o risco é misturar-se ao crime, em vez de combatê-lo.

Três anos atrás, outro filho do senador, o ex-deputado Robson Tuma, foi flagrado viajando num avião particular que estava repleto de mercadorias eletrônicas não declaradas – e o caso foi rapidamente abafado. Só que o escândalo que envolve Romeu Tuma Jr. é bem mais grave. Depois dos seus grampos com o contrabandista chinês, o secretário nacional de Justiça talvez tenha queimado sua última vida no videogame. E restou a ele uma única mensagem: game over, meu caro.