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ÁGUA SUJA
Manifestantes lavam a rampa do Congresso
pedindo a aprovação do projeto Ficha Limpa

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Enquanto alguns deputados tentam mutilar o projeto de lei que proíbe a candidatura de políticos fichas-sujas, que teve o texto principal aprovado na madrugada da quarta-feira 5, alguns partidos se antecipam e anunciam que não aceitarão condenados disputando eleições por suas fileiras. Mas as organizações da sociedade civil que apresentaram o projeto desconfiam da boa intenção. A possibilidade de impedir corruptos de se submeter às urnas aterroriza algumas legendas, pois pode deixar vários partidos sem candidatos fortes nos Estados. Muitos políticos que concorrerem às eleições este ano estão enrolados na Justiça. “É importante o eleitor vigiar, não sei se os partidos vão cumprir a promessa”, diz o coordenador da Transparência Brasil, Cláudio Weber Abramo.

Na frente das câmeras, os presidentes de alguns partidos dizem abertamente que irão impor restrições a candidatos fichas-sujas, mesmo que o projeto não entre em vigor antes das eleições deste ano. “Ficha-suja não disputa eleição pelo PSDB”, garantiu à ISTOÉ o presidente da legenda, senador Sérgio Guerra (PE). Ele, porém, muda o tom quando perguntado se alguns caciques do partido são considerados fichas-sujas, exemplo do governador da Paraíba, Cássio Cunha Lima, condenado por compra de votos. Cunha Lima distribuiu R$ 3,5 milhões em cheques para conquistar eleitores e foi cassado em fevereiro pelo Tribunal Superior Eleitoral, mas agora é o candidato forte do PSDB ao Senado. “Ele tem a ficha mais limpa do Brasil”, diz Guerra. O partido tem outro político encrencado com a Justiça, o senador Cícero Lucena (PB), que teve a prisão decretada em 2005 e é acusado de desvio de dinheiro público.

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CAUSA PRÓPRIA
Parlamentares comemoram vitória na Câmara, mas o projeto
ainda precisa passar pelo Senado

Pelo menos três partidos já formalizaram no papel a decisão de não permitir a filiação de fichas-sujas. PPS, DEM e PV publicaram resoluções que vetam políticos criminosos nas legendas. No DEM, a preocupação com o histórico dos políticos é ainda maior, pois o partido foi alvo de intenso bombardeio este ano após ser deflagrada a Operação Caixa de Pandora, da Polícia Federal, que descortinou um esquema de corrupção e derrubou um dos grandes nomes da legenda, o então governador do DF, José Roberto Arruda. Para tentar se proteger dos estilhaços do “Mensalão do DEM”, o partido promete ser rígido na hora de avaliar a ficha dos candidatos. O presidente da Comissão de Constituição e Justiça do Senado, Demóstenes Torres (DEM-GO), acha que é possível endurecer a legislação dos fichas-sujas. Ele quer desengavetar no Senado sua proposta de emenda à Constituição que exclui da vida pública os condenados em primeiro grau. “Minha proposta é bem mais severa que o projeto que tramita na Câmara”, diz Demóstenes.

O PV também promete despachar os fichas-sujas antes da votação final do projeto. A candidata do partido à Presidência, Marina Silva, se antecipou à aprovação do projeto e anunciou que não aceitará esses políticos na legenda. “Essa decisão demonstra coerência do partido”, diz Marina. “Como nós trabalhamos para a aprovação do projeto Ficha-Limpa no Congresso, faz sentido que nos antecipemos.” O PV ainda não levantou que candidatos poderão se enquadrar no quesito ficha-suja. Antes mesmo da aprovação do projeto em sua totalidade, há debates acirrados no Congresso sobre o que deve ser a extensão do termo ficha-suja.

O senador Cristovam Buarque (PDT-DF), por exemplo, que tem a educação e a ética como bandeira de campanha, diz que seu partido em Brasília vai vetar fichas-sujas. Mas ele não comenta o caso do ex-governador do Maranhão, Jackson Lago (PDT), cassado em março por abuso de poder econômico. “Não sei como é o caso dele especialmente”, diz Buarque.