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Assista trechos dos documentários produzidos pelos índios

 

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CÂMERA NA MÃO
Jovem da etnia Huni Kui, registra os rituais de sua tribo

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Há dois anos, todas as escolas de ensino médio do País são obrigadas a ter em seu currículo oficial a disciplina “história e cultura afro-brasileiras e indígenas”. A determinação está garantida pela Lei 11.645/08. Um problema recorrente, contudo, impede que a legislação seja seguida ao pé da letra: o material didático disponível para o aprendizado dessas culturas que durante muito tempo foram documentadas segundo um viés generalizante é ainda escasso. A figura do “índio genérico”, termo usado por etnólogos para se referir à representação mais comum dos índios brasileiros (vestido de short e sandálias havaianas e munido de arco, flecha e cocar), ainda prevalece. De outro lado, a vasta produção de antropólogos e indigenistas tem circulação limitada, pois dificilmente consegue ser adaptada para o nível escolar sem cair numa ótica relativista que diminui a verdadeira riqueza dessas culturas. Uma alternativa mais aberta e menos arraigada em academicismos e visões preconceituosas vem sendo desenvolvida por essas próprias minorias, que produzem obras audiovisuais capazes de refletir a sua multiplicidade de manifestações e preservar, assim, suas diferenças. É o caso do projeto Cineastas Indígenas: Um Outro Olhar, que distribuiu, gratuitamente, para a rede de ensino de todo o Brasil, três mil exemplares de uma coleção de vídeos. A série reúne 20 documentários em DVD sobre cinco etnias brasileiras – kuikuro, huni kui, panará, xavante e ashaninka – concebidos e dirigidos pelos próprios grupos indígenas. A ação é desenvolvida pela ONG Vídeo nas Aldeias e foi contemplada por meio de edital de seleção pública na área de educação pelas artes pelo programa Petrobras Cultural.

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“Os povos indígenas com os quais trabalhamos fazem até sete filmes por ano.
A questão é democratizar o acesso às tecnologias”
Vincent Carelli, cineasta e antropólogo

A verdadeira inovação do projeto Cineastas Indígenas está no fato de disponibilizar os vídeos não somente através da distribuição gratuita para as escolas, mas também por meio do site da ONG e em um canal criado no YouTube. Segundo o cineasta e antropólogo Vincent Carelli, coordenador do projeto, trata-se de uma produção intensa. “Os povos indígenas com os quais a gente trabalha fazem de cinco a sete filmes por ano e pouco a pouco a gente vai ampliando o trabalho”, diz ele. “A questão agora é democratizar o acesso às tecnologias audiovisuais e à internet, pois a demanda reprimida é enorme neste campo.” A mídia indígena despontou na década de 80 como um fenômeno global, devido à popularização do formato VHS, o antigo vídeo home system. No caso brasileiro, essa produção é extremamente variada e teve início em 1985 com o Kayapó Vídeo Project, desenvolvido pelo Centro de Trabalho Indigenista de São Paulo. Foi a primeira ação conhecida de fornecer a um grupo, no caso os índios kayapós, os meios de registro de imagens para que, dessa forma, ele pudesse resgatar e preservar suas tradições. O aparecimento da ONG Vídeo nas Aldeias, em 1987, se dá no mesmo contexto, oferecendo inicialmente a câmera de vídeo como ferramenta de comunicação entre comunidades indígenas e não indígenas. O resultado foi uma rede de videotecas e centros de produção de vídeos em mais 12 aldeias brasileiras.

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TRADIÇÃO ORAL:
gravação de documentário Kuikuro

Mais do que uma consequência do progressivo acesso às tecnologias digitais, a mídia indígena representa uma escolha por um resgate mais preciso das heranças culturais que estão se perdendo dentro de um mundo globalizado. O vídeo potencializa a transmissão participante, ou seja, a contribuição do grupo na formação de sua identidade, própria das sociedades de tradição oral. Quem avalia o impacto da tecnologia é o cineasta índio Zezinho Yube, um dos realizadores cujos trabalhos integram a coleção: “Esse processo mudou nossa visão. Hoje eu trabalho esse fortalecimento cultural através do vídeo como forma de registro de nossa história.” Representante da etnia huni kui, a maior população do Estado do Acre, com mais de cinco mil indígenas, Yube visita as aldeias espalhadas de seu povo filmando rituais, cantos e tradições artísticas. A difusão de imagens nos pátios das aldeias favorece a continuidade na transmissão de símbolos próprios a cada cultura, já que são feitas e discutidas coletivamente. Agora, o círculo se fecha ao atingir um novo público, nas escolas.. “O fortalecimento da cultura indígena abre os olhos não só dos índios mais novos, mas de todos os outros jovens, que devem cada vez mais tomar contato com a realidade indígena atual”, afirma Yube.

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