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“Eu queria construir uma ruína. Embora eu saiba que a ruína é uma desconstrução.” A frase de Manoel de Barros, apropriada por Rosângela Rennó e utilizada em sua instalação “Matéria de Poesia”, que esteve em cartaz até o dia 8 na Galeria Vermelho, em São Paulo, poderia ser transportada para o contexto da individual de Caetano Dias, em Salvador. Uma ruína não se constrói, mas em “Transverso” o artista baiano interpreta a ruína social produzida pelo alagamento da cidade baiana de Remanso para a construção da Represa de Sobradinho, em 1978. Da cidade, restaram as lembranças de antigos moradores, recolhidas no videodocumentário “1978 – Cidade Submersa”. Sobrou também a visão de uma caixa-d’água, flutuando como um farol, marcando a presença de um passado apagado pelo nível de água. O objeto foi documentado na série fotográfica “Água Invertida” e reinterpretado em uma escultura, fabricada em resina e cimento, intitulada “Edifício 510” (foto). Índice solitário da história de Sobradinho, o edifício alagado tem presença central na exposição.

A água e as marés, suas enchentes e vazantes, são os temas aqui tratados. Para o crítico Josué Mattos, “Caetano Dias conjugou a existência de tempos paralelos”, aproximando os acontecimentos de 1978 das tragédias que anualmente matam e desabrigam famílias durante a época das chuvas. Na galeria, o edifício está cercado de vídeos e imagens fotográficas que contribuem para essa narrativa da enchente. As fotos da série “Construção” mostram ruínas de edifícios destruídos por infiltrações, e na videoinstalação “Submerso” um corpo mergulhado em água é projetado sobre um piso de cerâmica, que poderia muito bem pertencer ao “Edifício 510”.