Perguntaram ao roqueiro David Bowie o que ele achava do fato de ser escancaradamente imitado pelo andrógino Brian Molko, vocalista da banda Placebo. A resposta veio suavemente sarcástica: “Ele é a filha que eu nunca tive.” Essa história revela o que anda acontecendo no mundo pop. Se antes os grupos musicais preferiam disfarçar ou esconder as suas influências, hoje eles as tornam tão explícitas que chegam a ser confundidos com a fonte inspiradora. A regra é nada se cria, tudo se copia. Ouça-se, por exemplo, o badalado quinteto americano Clap Your Hands Say Yeah, que acaba de ter lançado no Brasil o seu primeiro álbum. O nome do grupo, traduzido para o português, é Bata Palmas Diga Sim. Originalíssimo! O som, porém, é “chupado” da extinta banda new wave nova-iorquina Talking Heads, a começar pelos vocais de Alec Ounsworth: eles são idênticos aos de seu líder David Byrne.

Com as mesmas características chega às lojas o trabalho de estréia da dupla californiana She Wants Revenge, xerox puro do estilo deprê da banda de Manchester Joy Division, cujo líder, Ian Curtis, se suicidou após assistir a um filme do alemão Werner Herzog. Ian costumava cantar os seus sofrimentos de amor e expunha a sua depressão em canções como Love will tear us apart. Não por acaso, Adam 12 e Just Warfield, do grupo She Wants Revenge, assinam uma música chamada Tear you apart – tomara que a imitação pare no campo musical e que Herzog nunca os deprima tão profundamente. Adam 12 rejeita o rótulo de replicante e se defende. “Tentamos fazer um som que lembra aquele que crescemos ouvindo, mas sem emulá-lo, apenas usando-o como influência.” A tendência, detectada como um “revival anos 80”, tem uma explicação mais que óbvia. Foi naquela década que essa rapaziada que hoje ocupa as paradas de sucesso era adolescente e colecionava CDs de gente como Joy Division, Depeche Mode, The Cure, Bauhaus e Talking Heads – o time mais copiado pela nova geração.

É longa a lista de novos roqueiros inspirados no som do passado. Se alguém quiser ouvir uma versão atualizada do saudoso punk do famoso Clash, é só levar para casa Stars of CCTV, do quarteto inglês Hard-Fi. Da mesma forma, ecos do U2 aparecem em Under the iron sea, do trio britânico Keane. Esse fenômeno começou a se delinear em meados do ano passado, quando o quarteto londrino Bloc Party empolgou as tribos de roqueiros com músicas que lembravam o som dark do The Cure, mas há casos em que as referências são mais jurássicas: serve de exemplo o trio australiano Wolfmother, cujo trabalho de estréia também acaba de sair no Brasil. Com a sua voz em falsete, o cantor Andrew Stockdale tem como modelo Robert Plant, do grupo pré-heavy metal Led Zeppelin, e os solos de guitarra seguem o estilo do virtuoso Jimmy Page. Não satisfeito, às vezes Stockdale também imita o gordo e cabeludo Ozzy Osbourne, antigo vocalista do Black Sabbath – e aí parece que ele andou mesmo dando uma vasculhada nos velhos vinis de seus ídolos roqueiros.


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