A atriz Patrícia Pillar, 41 anos de idade e 20 de carreira, diz que não segue critérios rígidos para escolher seus papéis: “Sou feita para qualquer personagem e não gosto de ser rotulada.” Mas ainda que não aprecie a idéia de ser engessada em categorias de interpretação, há uma característica que molda a maioria de suas personagens e que colocou em evidência o seu trabalho e o seu talento – elas são sempre politizadas. Quem não se recorda da sem-terra Luana da novela O rei do gado (1996) e da médica feminista Cris do famoso seriado Mulher (1998), ambos exibidos pela Rede Globo? Agora, Patrícia Pillar está de volta ao cinema, à frente do elenco do filme Zuzu Angel, de Sergio Rezende, em cartaz no dia 4 de agosto. E, mais uma vez, lá vai ela brilhar em outra personagem política. O filme conta a tragédia da estilista mineira Zuzu Angel, que nos anos 70 viu coincidir o auge de sua carreira com a tempestade de dor e revolta que passou a viver com a perda de seu filho Stuart Angel Jones, torturado e assassinado pelos organismos de repressão da ditadura militar. As criações de Zuzu vestiam estrelas internacionais como Liza Minelli e Kim Novak. Era a glória. Stuart, um jovem envolvido com o movimento estudantil, foi morto nos porões do regime político e teve o seu corpo jogado no mar. Fez-se a tragédia. Assim, o filme retrata o calvário dessa mãe (para quem Chico Buarque compôs a música Angélica) na tentativa de localizar o corpo do filho, enfrentando os militares e os responsabilizando publicamente pelo assassinato. Aos que a consideravam destemida demais, ela respondia: “Corajoso era meu filho. O que eu tenho é legitimidade.”

Foi mais uma escolha de Patricia que levou o ator Daniel Oliveira a integrar o elenco do filme. Ela o sugeriu para interpretar Stuart. “Dizem que as mães não escolhem os seus filhos, eu pude escolher o meu!”, afirma a atriz, que na tevê adotou outro “filho” revolucionário. Trata-se do folhetim da Rede Globo Sinhá Moça, no qual Patrícia é a baronesa Cândida, mãe de uma jovem abolicionista. Interpretar tantas mães não desperta nela o desejo de ser uma na vida real? “As pessoas têm fixação nesse assunto. Existe vida sem a maternidade”, diz Patrícia, casada há oito anos com o ministro Ciro Gomes. Em 2002, ela levou para a vida pública o engajamento de seus personagens e participou da campanha do marido para a Presidência da República. Mas este ano os palanques perderam para o trabalho profissional: “Estou fazendo novela, fico fora de eleição.”

Foi por pouco que Patrícia não teve acrescentado a seu currículo mais um papel politizado: o da comunista Olga Benário, mulher de Luiz Carlos Prestes que foi encarcerada e mandada pelo presidente Getúlio Vargas para um campo de extermínio na Alemanha. Durante dois anos, Patrícia ficou envolvida na pesquisa, mas o papel foi parar nas mãos de Camila Morgado. “Era um projeto que eu tinha em parceria com o diretor Luiz Fernando Carvalho, mas quando ele foi substituído pelo Jayme Monjardim a coisa virou uma outra proposta e eu saí”, diz ela. “Mas não sou de ficar me lamentando pelo que não rolou, tem muita coisa boa para se fazer.” Uma das “coisas boas” do momento é o documentário que está produzindo sobre o cantor Waldick Soriano. A atriz já selecionou 39 canções de seu repertório: “Ele não foi somente um cantor cafona. Waldick é o maior bluesman brasileiro.” Mudar a imagem do cantor é atualmente a grande causa de Patrícia Pillar.