A arquitetura contemporânea é pródiga em idéias polêmicas. A mais nova delas é de autoria do arquiteto carioca Igor de Vetyemy, 25 anos, criador de um projeto que detonou um debate acalorado. Como trabalho de graduação, ele criou um estranho projeto para ser construído na ligação entre as avenidas Princesa Isabel e Atlântica, em Copacabana, cujo nome não deixa dúvidas quanto à função: Cidade do Sexo. É um complexo dedicado ao sexo, com centro de estudos, lojas, consultórios médicos e – detalhe mais polêmico – uma área para a prática sexual. “A idéia é quebrar tabus”, instiga Vetyemy. A proposta mobilizou líderes comunitários, arquitetos, prostitutas e o próprio prefeito Cesar Maia, que a princípio se mostrou favorável à idéia, mas voltou atrás. “Será que esse é um belo factóide de um arquiteto jovem para atrair a atenção sobre seu talento?”, questionou. Entre os defensores da proposta há profissionais como Nigel Coates, o influente arquiteto e designer inglês, que declarou ao jornal The Guardian: “Não há ninguém mais entusiasmado do que eu. Se for adiante, gostaria de me envolver no processo.”

Nada na Cidade do Sexo é convencional – a começar pela sua inspiração. Vetyemy teve a idéia depois que a amiga Olivia von der Weid comentou sobre o seu trabalho de graduação em ciências sociais pela UFRJ, que tratava da troca de casais, o popular swing. “Fiquei impressionado ao constatar que até mesmo a traição é mais aceita que o sexo feito em consenso entre casais”, comenta ele. Decidido a interferir através da arquitetura para ajudar a quebrar tabus sexuais, Vetyemy criou o controvertido projeto e recebeu nota 10 com louvor da banca da UFRJ. O complexo, orçado em R$ 260 milhões, foi projetado em formas fálicas ou que passam a idéia de acasalamento e espalha-se pela avenida Princesa Isabel em um design quase sem retas. “Usei o conceito de ‘arquitetura líquida’, que é a grande novidade mundial.”

A audácia, no entanto, foi mal recebida por muitos. As oito associações de moradores de Copacabana se manifestaram contra a Cidade do Sexo. “Há coisas mais importantes para se gastar dinheiro público, como saúde e educação”, diz a presidente da Associação de Moradores e Amigos de Copacabana, Myriam Barbosa. Presidente da ONG Davida, que reúne as prostitutas cariocas, Gabriela Leite é outra crítica. “Essa idéia de unir consultórios médicos e centro cultural a uma área de prática sexual é um meio de domesticar o sexo, coisa ultrapassada”, diz ela. “Além do mais, esse complexo é muito feio”.

A favor estão principalmente os artistas e arquitetos. “Estamos diante de algo completamente novo”, opina Manuel Sanches, arquiteto e sociólogo da UFRJ. Soluções inovadoras não faltam ao projeto, como a cápsula projetada para a prática das posições do Kama Sutra ou os recintos destinados ao swing. Mas da originalidade à implantação, há uma longa distância. Ouvido por ISTOÉ, o prefeito Cesar Maia juntou mais um argumento contrário: “Li no jornal que custaria R$ 200 milhões ao setor privado. Quem pagaria?” Conceitos arquitetônicos criativos geram discussão, como foram os casos do Centro Georges Pompidou, em Paris, e do museu de Bilbao, na Espanha. A diferença quanto à Cidade do Sexo é que esta última parece fadada a não ir além da polêmica.


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