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TRIBUTO
No lugar da queda do avião, flores, velas e fotos do presidente e da primeira-dama

Repleta de pinheiros, a floresta de Katyn, a 20 quilômetros da cidade russa de Smolensk, é palco de duas tragédias que chocaram a Polônia. Em 1940, cerca de 20 mil poloneses, incluindo toda a elite militar do país, foram exterminados na floresta, a maioria com um tiro na nuca. Setenta anos depois, um avião Tupolev-154 da Presidência da Polônia se espatifou nas imediações da floresta com 97 personalidades que prestariam uma homenagem às vítimas do massacre de 1940. “Jesus, Maria, é uma tragédia inimaginável”, foi a primeira reação do ex-presidente Lech Walesa. “A Polônia perdeu a sua elite.” O acidente, na manhã do sábado 10, não deixou sobreviventes. Entre as vítimas estão o presidente Lech Kaczynski, a primeira-dama, todos os líderes das Forças Armadas, o presidente do Banco Central, parlamentares e religiosos.

No Tupolev-154 também estava a lendária Anna Walentynowicz, antiga líder sindical dos estaleiros de Gdansk. Em agosto de 1980, quando Anna foi demitida, os operários dos estaleiros saíram em protesto às ruas. O movimento culminou na criação do sindicato Solidariedade e, mais tarde, na mudança de regime político do país. Entre os fundadores do sindicato também estava o presidente, que tentaria a reeleição em outubro. Ultraconservador, nacionalista e católico fervoroso, Kaczynski tinha 60 anos e era famoso desde criança. Junto com o irmão gêmeo, o ex-primeiro-ministro Jaroslaw, ele estrelou em 1962 um filme infantil que fez sucesso por décadas. Nas últimas semanas, contava com índice de 20% de popularidade e tinha como principal adversário na disputa presidencial o líder do partido da esquerda, Jerzy Szmajdzinski, que também morreu no acidente.

Antecessor de Kacyznski na Presidência, Aleksander Kwasniewski não mediu palavras quando soube do acidente: “Aquele é um lugar maldito. Ele me provoca arrepios na espinha.” Durante meio século, líderes da extinta União Soviética (URSS) fizeram valer a versão de que a matança teria sido cometida pela Gestapo de Adolf Hitler. À época, a Polônia havia sido dividida entre a Alemanha e a URSS. A verdadeira autoria do massacre – a polícia de Josef Stalin – só foi confirmada quando os arquivos da extinta URSS começaram a ser abertos. Mesmo assim, continuam secretos 118 dos 186 volumes da investigação sobre o massacre. Quatro dias antes da queda do Tupolev-154, pela primeira vez, autoridades da Rússia e da Polônia – os primeiros- ministros Vladimir Putin e Donald Tusk – haviam se encontrado em Katyn, para tentar diminuir a diferença entre os dois países. Com a mais recente tragédia, o movimento foi interrompido e a Polônia terá, de novo, que substituir às pressas suas lideranças. 

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