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O PT quer o presidente Luiz Inácio Lula da Silva longe do Palácio do Planalto nas semanas que antecedem o primeiro turno das eleições presidenciais. A ideia, que chegou a ser descartada por Lula, voltou a ganhar força nas últimas semanas e lideranças do partido iniciaram um esquema orquestrado de pressão para convencer o presidente a embarcar de corpo e alma na campanha de Dilma Rousseff. Debruçados sobre as últimas pesquisas de intenção de voto, dirigentes do PT argumentam que Lula pode ser um “trunfo de última hora” para Dilma liquidar a eleição já no primeiro turno. Hoje, pela lei eleitoral, Lula só pode participar de eventos partidários ao lado de Dilma nos fins de semana ou fora do horário do expediente. Antes resistente a deixar o governo, Lula já admite discutir a possibilidade, convencido de que pode se transformar, de fato, numa carta na manga da candidata petista na reta final da corrida à Presidência. O presidente aceitou reconsiderar a ideia, vista por ele como descabida há algumas semanas, por conta da decisão do vice-presidente, José Alencar, de não sair candidato e estar apto a assumir a Presidência em caso de sua licença.

No PT, um dos principais defensores do projeto é o ex-ministro José Dirceu. Na quinta-feira 15, Dirceu tratou do assunto em reuniões privadas com correligionários. Nos bastidores, o ex-ministro tem sido um dos principais articuladores da campanha de Dilma nos Estados. Amigo pessoal de Lula, o ex- governador do Acre, Jorge Viana, reconhece que, “se for necessário”, o presidente sairá mesmo a campo. “A lei brasileira permite que o presidente possa participar da campanha. Com Alencar permanecendo como vice, passamos a contar com essa possibilidade”, disse Viana em entrevista à ISTOÉ. “Lula tem saúde, disposição e pode ser mesmo um diferencial”, acrescentou o petista. “Imagina o Lula andando na rua pedindo voto, entregando santinho? Imagina o que vai representar para a campanha. É um cabo eleitoral que todos nós queremos”, afirma o senador Delcídio Amaral (PT-MS). O líder do governo na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), admite que o tema “licença de Lula” tem sido recorrente no PT. “Sei que tem gente falando (na licença). Não sei se vai precisar. Dilma tem todas as condições de crescer mais que Serra, embora ache cedo para falar em vitória no primeiro turno”, disse Vaccarezza.

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Apesar das reiteradas negativas do presidente, quem esteve com Lula nos últimos dias garantiu que o cenário mudou a partir da decisão de Alencar de não se candidatar. “O quadro, agora, é outro”, afirmou um assessor palaciano. O temor inicial do presidente era de que, com a sua licença da Presidência para ajudar Dilma, o noticiário retomasse as denúncias contra José Sarney, que teria de assumir o cargo máximo do País, caso Alencar mantivesse a disposição de concorrer ao Senado por Minas. Embora seja aliado de Sarney, Lula também achava que não seria uma atitude correta com a população que o elegeu. Esse obstáculo, no entanto, foi removido pelo próprio Alencar. “Lula apoiou minha decisão. Vou cumprir o meu mandato até o último dia e descer a rampa do mesmo jeito que subi. Sei que assumirei a Presidência mais vezes e estou pronto para quando Lula solicitar”, disse o vice.

Outra grande preocupação de Lula, compartilhada por integrantes do PT, é que a sua licença seja interpretada como fragilidade da candidatura Dilma. Daí a ideia do partido de que a participação mais efetiva do presidente na campanha só aconteça a poucos dias do primeiro turno, com o objetivo de sacramentar a vitória de Dilma. “A nossa candidata tem os dois ativos mais importantes da eleição: o governo e o presidente Lula. E isso pode ser determinante para a vitória. Quem sabe até no primeiro turno”, reforça Jorge Viana. Na avaliação dos petistas, a presença de Lula no palanque de Dilma pode ser decisiva, pois o presidente já mostrou sua capacidade de transferir votos. No início do ano, até mesmo os petistas duvidavam da densidade eleitoral da então ministra da Casa Civil. Mas bastou Lula andar com Dilma a tiracolo para transformá-la numa candidata competitiva, ultrapassando os 30% da preferência dos eleitores. De acordo com a última pesquisa do instituto Sensus, Dilma (32%) está empatada tecnicamente com José Serra (33%), candidato do PSDB. Em relação à pesquisa anterior do instituto, feita no final de janeiro, Dilma subiu quatro pontos percentuais, Serra permaneceu estável. O melhor desempenho da candidata do PT é registrado no Nordeste, onde tem 44% das intenções de voto e uma vantagem de 19 pontos sobre o tucano. “Nossa expectativa é do crescente reconhecimento de que ela é a continuidade do governo do presidente Lula”, comemora o líder do PT na Câmara, Fernando Ferro (PE).

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MAIS 4 ANOS
Lula já disse a aliados que voltou a considerar a ideia de se afastar do governo
para trabalhar por Dilma, dependendo do desempenho da candidata governista
na reta final das eleições

Informalmente, Lula já tem participado da pré- campanha de Dilma. Além de ser o principal cabo eleitoral da ex-ministra pelo País afora, o presidente é sempre ouvido na hora em que algo ameaça sair do rumo planejado pelo staff da petista. Na última semana, por exemplo, foi ele quem articulou o encontro dos líderes de partidos aliados com Dilma, em meio a divergências e disputas na montagem dos palanques estaduais. A reunião foi marcada para segunda-feira 19 na residência do deputado Eunício Oliveira (PMDB-CE). “Vamos discutir um engajamento maior dos partidos na campanha”, disse Vaccarezza. A orientação de Lula é para que a ex-ministra limite seu périplo pelo País a locais onde a briga entre os partidos não está tão acirrada.

A viagem de Dilma ao Ceará na terça-feira 13, por exemplo, acentuou a queda de braço entre PT e PSB no Estado. Lá, o PT cobra a vaga ao Senado e a de vice na chapa do governador Cid Gomes, que, por sua vez, não admite discutir eleição presidencial enquanto o irmão e deputado Ciro Gomes (PSB-CE), hoje debaixo de tiroteio do PT, estiver disposto a permanecer na disputa ao Planalto.“É também por essas e outras que queremos que Lula tire licença para ajudá-la”, diz um graduado petista. Em 2006, o presidente Lula também cogitou se licenciar do cargo para fazer sua campanha à reeleição, mas foi demovido da ideia por auxiliares próximos. Dessa vez, porém, o PT trabalha para que a decisão de Lula seja diferente. Em jogo, está não só a eleição de Dilma, mas o projeto petista de permanência no poder.