A Baixada Fluminense é um lugar no qual política é sinônimo de correr riscos. Nessa área – um conjunto de 13 municípios da região metropolitana do Rio de Janeiro com quatro milhões de habitantes – , nove políticos foram assassinados desde as últimas eleições municipais e atentados ocorrem com freqüência. O maior número se concentra em Duque de Caxias. Em um ano e meio, três candidatos a vereador foram assassinados. Um suplente e mais quatro vereadores sofreram atentados – dois deles morreram. O último ataque aconteceu em 6 de julho, quando o vereador Sebastião Ferreira da Silva, conhecido como Chiquinho Grandão (PV), foi atingido por cinco disparos. Ele sobreviveu, mas continua internado.

“Até agora, a polícia não resolveu nenhum desses crimes”, alarma-se o vereador Júnior Reis (sem partido), presidente da Câmara Municipal de Caxias. “Me previno usando seguranças, circulando em carro blindado e vou tirar porte de arma.” Outro vereador, Ricardo José de Souza, o Ricardinho (PSL), cuja plataforma é disciplinar os transportes na cidade, escapou de quatro tiros, mas continua recebendo ameaças. “Procuro não me intimidar, mas se as coisas continuarem como estão vou reunir minha família e considerar a possibilidade de renunciar ao mandato.”

O medo está espalhado por toda a Baixada. No dia 26 de junho, a vereadora de Guapimirim Nilda Machado, mulher do prefeito Nelson Costa Melo, sofreu uma tentativa de assassinato. Ela foi atacada por dois homens que fizeram dez disparos. Três tiros a atingiram no peito, no braço e de raspão na cabeça. “Foi Nossa Senhora da Aparecida que me salvou”, diz Nilda, que também é secretária municipal de Ação Social. O prefeito descarta a hipótese de assalto. “Foi crime político. Os tiros saíram de um revólver calibre 45, arma que normalmente não é usada por assaltantes.” Melo não sabe a motivação do atentado, mas suspeita que tenha a ver com suas desavenças com vereadores locais e com seu antecessor, que teve as contas reprovadas. O prefeito de Guapimirim também usa carro blindado e tem quatro seguranças.

Em Queimados, Belford Roxo e Magé, os casos se repetem. “Vou passar a andar de escopeta”, diz o vereador Dejair Correa (PDT). Por orientação da Chefia de Polícia Civil, os delegados da área não dão informações sobre as investigações. Na terra de Tenório Cavalcanti, o pistoleiro de Caxias que virou político sem deixar de ter à mão sua metralhadora “Lurdinha” (sua história foi contada no filme O homem da capa preta), a tradição de violência continua intacta.