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Você começou a fazer vídeos para internet antes do YouTube?
Meu início foi com a “Página do Rafinha”, em 1999, na qual eu postava alguns vídeos. As condições para fazer isso na época eram precárias. Webcam era um negócio que estava chegando ao Brasil. Ou você usava essas ou fazia na câmera convencional e transferia para o computador. A “Página do Rafinha” chegou a ter 154 mil visitas por dia. Por um tempo, foi a única página independente com vídeo na internet brasileira. O YouTube foi uma salvação na minha vida. Eu não precisava mais me preocupar com a banda que os vídeos estavam sendo transferidos. Antes dele, as pessoas levavam até quatro horas para baixar um vídeo. Às vezes, demorava a madrugada inteira para baixar um vídeo de 1,5 minuto. A página caía de duas em duas horas. Com o YouTube, hospedar os vídeos passou a ser responsabilidade de uma empresa que queria que eles fossem vistos. O YouTube mudou a minha vida. A visibilidade que tive me possibilitou negócios absurdos. Se hoje estou no “CQC”, tem pitadinha do YouTube.

Tudo que está no YouTube relacionado a seus shows é produção sua?
Até hoje, 90% do que vai para internet é produção minha. É ruim por um lado e bom por outro. Eu fiz dois anos de temporada lotada em São Paulo basicamente por divulgação na internet. Por outro lado, muita coisa que não quero que entre acaba caindo no YouTube, o que pode prejudicar meu trabalho. Se você sabe o final da piada, meu show não faz sentido. Quando você ouve música, você quer ouvir o mesmo disco o tempo todo, mas piada só tem graça uma vez. Por isso, se entra coisa minha no YouTube que eu não quero, eu tiro. Eu faço um controle diário. Como tenho uma conta de direito autoral no YouTube, eu entro e praticamente dou delete nos vídeos. Eu preenchi um termo de compromisso que permite que em 5 ou 10 minutos um vídeo que eu pedi para retirarem saia do ar. Mas as pessoas que colocam não querem me prejudicar, são fãs. Geralmente quando escrevo e peço elas tiram por conta própria.


Existe fórmula para um vídeo fazer sucesso?
A fórmula é não fazer o que estão fazendo. Não adianta querer fazer vídeo bom de (comédia) stand up, dublagem de música, porque já tem isso lá. Se tiver ideia boa, original, vai fazer sucesso. O YouTube é muito justo, ele veio derrubar essa estética da publicidade de que todo mundo é bonito, perfeito, em que todas as mulheres são gostosas. Hoje, por mais feia que a pessoa seja, ela pode aparecer. O principal ingrediente é a criatividade. Tem agência cobrando por viralização. Eu mesmo não sei o formato para fazer um viral. Tenho noção, mas às vezes faço uma merdinha, sem a menor pretensão e dá certo. Dia desses, fiz um vídeo no banheiro da minha casa em que eu dizia: “Para proteger a natureza, cague no escuro”. Teve mais de 180 mil visualizações em cinco dias. É uma coisa simples. O que acontece é que tem muita gente simulando essa simplicidade. Faz de qualquer jeito para ficar com cara de viral. Vídeo viral não é formato, é uma ideia ou um acontecimento. A ideia descompromissada, a surpresa.

Como a televisão está se adaptando ao YouTube?
A grande mania da televisão é o quadro de vídeos divertidos. Eles colocam uma moldurinha, como se fosse de internet, e exibem no programa de domingo. Isso mostra que essas mídias não estão se entendendo. O que foi criado para a internet tem de ficar nela. A televisão não se adaptou, nem sequer está preocupada com isso. Infelizmente, quem paga a conta ainda são os grandes anunciantes. Essa hegemonia da televisão está acabando. Cada vez mais se populariza o vídeo HD, vídeo digital, televisões que acessam YouTube. Esse é o próximo passo.

Ainda te dá prazer postar vídeos?
Eu adoro produzir para a internet. É uma das coisas que eu mais gosto de fazer, sem dúvida. Lá não tem ninguém me dizendo o que é certo e o que é errado. Você pode fazer o que vem na cabeça. Você tem uma ideia na cabeça, uma câmera na mão e a possibilidade que as pessoas te assistam e digam se teu material é bom ou é ruim. Se for bom, vai fazer sucesso.