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Esmir Filho, 27 anos, diretor do longa “Os Famosos e os Duendes da Morte”, co-dirigiu com Rafael Gomes e Mariana Bastos o curta “Tapa na Pantera”. Nessa entrevista, feita separadamente, Esmir e Rafael falam sobre YouTube e o sucesso do curta, que originalmente era para ser outro filme.

Quando começou sua relação com o audiovisual?
Esmir: Internet está comigo desde os 15 anos de idade. Meu contato com o audiovisual veio junto com a agregação de mídias que aconteceu nos últimos anos, de cinema, curta, internet. Gosto da agregação. “Famosos e os Duendes da Morte”, meu primeiro longa, fala da internet.
Rafael: Gosto de cinema desde adolescente. Foi meio natural escolher essa arte como minha profissão. Conheci o Esmir e a Mariana Bastos na faculdade e ficamos muito amigos logo de cara, como somos até hoje.

Por que você acha que “Tapa na Pantera” deu certo?
Esmir: Deu certo porque traz o inesperado, que vem daquilo que todo mundo está querendo falar, todo mundo está querendo ouvir. É alguma captação que acontece em outro patamar e que cai na rede e as pessoas se identificam. Seria muito visionário saber o que vai fazer sucesso. Ele foi um dos primeiros responsáveis por tornar o YouTube conhecido no Brasil. Gravamos em 2004 e aí estourou em 2006.
Rafael: O “Tapa na Pantera” foi um verdadeiro acidente. Tenho relação familiar com Maria Alice Vergueiro. Acompanhava a carreira dela no teatro desde 1996, quando eu tinha 14 anos. Quando fizemos “Tapa na Pantera”, fomos gravar um vídeo para o Festival do Minuto. E tinha acabado de acontecer o caso do Marcelo Anthony, que tinha sido preso por porte de maconha. Aí ela improvisou aquela cena.

Já aconteceu de ser reconhecido por algum produtor, patrocinador por causa do “Tapa na Pantera”?
Esmir: “Tapa na Pantera” não é o começo nem o fim de coisa alguma. Eu inclusive já tinha participado de outros festivais. Ele se popularizou porque a internet tem esse poder. Isso virou uma porta para conhecer o resto do meu trabalho. Acontece de as pessoas me reconhecerem, sim, mas não uso como cartão de visita. Está inserido em tudo que eu fiz. Fiz “Tapa na Pantera”, mas também ganhei Cannes (pelo curta “Saliva”). É o conjunto do trabalho. Eu sempre digo quando dou palestras em faculdades: “Não dependam de uma coisa só, façam uma carreira. O conjunto é que vale”.

Existe fórmula para um vídeo fazer sucesso na internet?
Esmir: É tão aleatório como as coisas ganham audiência… A gente colocou no YouTube um curta que se chama “Vibra Call” para ver o que ia dar. O engraçado é que a maioria das pessoas que viu não é do Brasil, enquanto “Tapa na Pantera” só é visto aqui. E o “Vibra Call” começou a ter audiência dois anos depois que tínhamos postado. Então é também momento. Daqui a 10 anos, pode começar a ser espalhado algo postado hoje. A internet imortaliza, algo fica exposto para sempre e você espera acontecer. A internet é uma pílula, ou você vê sozinho, ou divide com os amigos. Cinema trabalha com outra coisa. Quem vai sentar para ver um filme vai discutir, vai pensar. No YouTube você joga as coisas para o mundo e vê o que vai acontecer. Cada um cria um repertório individual, que faz com que tudo fique muito aleatório. Acredito em nicho. Internet vem para mudar o conceito de espectador. E cada vez vai ser mais difícil alcançá-lo.
Rafael: Esse trabalho mostrou duas coisas: uma é o poder do público. Um vídeo que alguém passou para alguém, se tornou um viral. Levou dias, semanas, para virar esse cult. E vira um sucesso de público sem nenhum outro meio de comunicação. E as pessoas ainda hoje revêem muito. A segunda lição é que fenômenos são fenômenos não à toa. Você não fabrica um fenômeno. É o flagra do bebê dançando “Single Ladies”. Não tem toque de midas para isso.