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“Aqui não se cultivam escândalos, malfeitos ou roubalheiras”
José Serra
“A oposição é lobo em pele de cordeiro”
Dilma Rousseff

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A primeira semana da pré-campanha à Presidência mostrou que a eleição transcorrerá num clima beligerante entre PSDB e PT. Nos últimos dias, a temperatura subiu mais do que o esperado. Acossado pelos números das pesquisas Band/Vox Populi, CNI/Ibope e Datafolha, em que a distância entre o exgovernador José Serra e a ex-ministra Dilma Rousseff oscilou de três a nove pontos percentuais, o PSDB foi o primeiro a elevar o tom da disputa com estocadas abaixo da linha da cintura. Na quartafeira 31, dia em que deixou oficialmente o governo de São Paulo, Serra pôs em dúvida a ética dos adversários do PT. “Os governos, como as pessoas, têm de ter caráter, índole e honra. Aqui não se cultivam escândalos, malfeitos ou roubalheiras”, disse. No dia seguinte, aconselhado por assessores, o tucano suavizou o discurso. Durante cerimônia de assinatura de um programa de ajuste fiscal que permitirá ao Estado de São Paulo obter mais R$ 3,3 bilhões em financiamentos, Serra tentou vestir o figurino de candidato pós-Lula, ao elogiar publicamente o presidente da República e o ministro da Fazenda, Guido Mantega.

A postura ambivalente do précandidato do PSDB foi a senha para o PT contra-atacar. Em reuniões do staff da campanha, ficou decidido que Dilma Rousseff sairia a campo para marcar as diferenças entre PSDB e o PT. E, com isso, neutralizar a estratégia tucana de se mostrar ao eleitorado como uma continuidade ao governo petista e não como o anti-Lula. “Não podemos cair nessa cantilena do Serra de dizer que não é oposição ao governo”, disse o ministro da Secretaria de Comunicação, Franklin Martins, no encontro. Em seu discurso de estreia na pré-campanha, Dilma seguiu à risca o script previamente acertado. Usando uma citação religiosa, mas sem citar Serra, chamou de “lobo em pele de cordeiro” aqueles que durante sete anos fizeram oposição ao governo e agora posam de pós-Lula. “Aqueles que venderam nosso patrimônio, que quebraram o Brasil e deixaram o povo sem um salário digno não têm condições de levar isso adiante”, disse a ex-ministra. O tom foi mantido na viagem a cidades históricas de Minas Gerais: “Estamos caracterizando que há dois projetos: o do presidente Lula e o da oposição. O que não está certo é esconder a realidade e dizer que todo mundo é igual”, disse ela em Ouro Preto.

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Surpreso com a reação rápida de Dilma, o PSDB resolveu tirar Serra do ringue e escalar expoentes da legenda para retomar a rodada de ataques à candidata do PT. Foram eles o presidente nacional do partido, senador Sérgio Guerra (PE), e o governador recém-empossado de São Paulo, Alberto Goldman. “Sou intolerante ao mau-caratismo, à deslealdade e à corrupção”, afirmou o novo governador paulista ao referir-se ao escândalo do Mensalão petista. Na quarta-feira 7, partidos de oposição voltaram a disparar contra a ex-ministra, ao considerarem “oportunismo” e “encenação” a visita dela ao túmulo do ex-presidente Tancredo Neves, avô do ex-governador de Minas Gerais Aécio Neves (PSDB). “O que ela foi fazer no túmulo do Tancredo às vésperas da eleição? Por que não foi das outras vezes em que esteve lá?”, questionou Sérgio Guerra.

O líder do governo na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza (PTSP), ressaltou que a temporada de baixaria na campanha foi inaugurada pelos tucanos. “Realmente não dá para se travestir de cordeiro depois de ser oposição durante quase uma década”, disse ele à ISTOÉ. O cientista político David Fleischer manda um recado a PT e PSDB ao repetir o que é quase um mantra entre os marqueteiros eleitorais. “Normalmente, quem bate perde. A não ser que bata no lugar certo”, lembrou o professor da Universidade de Brasília.