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São filas intermináveis de ônibus soltando baforadas de fumaça de diesel no ar. Milhares de fãs vindos de longe, muitas vezes usando transporte individual. Por fim, toneladas de garrafas PET, latas e embalagem de comida industrializada. É, para o bem-estar do planeta, os festivais de rock fariam um grande favor se simplesmente deixassem de existir. Mas, desde quando batucávamos no interior de cavernas, não vivemos sem música. O desafio é cultivar essa paixão sem que para isso a temperatura altere demais em relação àquela que era experimentada pelos nossos ancestrais.

No Hemisfério norte, cantores e bandas como Beastie Boys, John Mayer, Radiohead e Norah Jones encamparam a causa e, pelo menos em suas turnês, fazem de tudo para que sua música não deixe um rastro de carbono atrás de si. Essa tendência vai ganhar força no Brasil em outubro, quando o País terá a sua versão do Festival de Woodstock, que, em 1969, reuniu meio milhão de jovens numa fazenda dos EUA para dançar, se enlamear e mudar o mundo ao som de Jimi Hendrix, Joe Cocker e da banda Ten Years After. A fazenda talvez seja um dos poucos pontos em comum entre o original americano e sua releitura brasileira.

O evento começou a tomar forma no ano passado, quando o empresário e publicitário Eduardo Fischer adquiriu o direito de realizar um festival de música com a grife Woodstock. Com a concessão debaixo do braço, associou-se à The Groove Concept, empresa de eventos que organizou o festival Maquinária em 2009. A iniciativa passou a amadurecer seu lado verde no mês passado, quando entraram no barco a empresa Visão Sustentável e o Instituto EcoDesenvolvimento. Por meio de uma enquete realizada na página que o publicitário mantém no Twitter, os seguidores escolheram uma fazenda sustentável em São Paulo como o local mais conveniente para a realização do festival. Palco de raves, a fazenda Maeda, em Itu, é cogitada como sede do evento.

Já no quesito localização começam os problemas para que o selo da sustentabilidade cole no Woodstock brasileiro. A fazenda em questão fica a cerca de uma hora de São Paulo e não é assistida por transporte público frequente. Por conta disso, muitos fãs se deslocarão em veículos particulares, o que aumenta consideravelmente a pegada de carbono do festival.

No Exterior, as medidas usadas para contornar contratempos poluidores como esse vão desde a realização do evento perto de estações de trem ou metrô até a criação de estratégias para que a plateia compartilhe caronas. É o que faz a banda Phish, por exemplo. Quem compra ingressos do grupo recebe um e-mail com o seguinte texto: “Em um esforço para diminuir a pegada de carbono, a Phish e a empresa Reverb criaram um programa de compartilhamento de carona, para que motoristas e potenciais passageiros possam entrar em contato para irem juntos ao show.” Quem adere ganha direito a lugar privilegiado no estacionamento.

Problemas de emissões com os deslocamentos dos artistas e pessoal técnico têm sido minimizados com a adoção do biodiesel. Do Pearl Jam aos Rolling Stones – que chegam a utilizar até 40 veículos a diesel em suas turnês –, muita banda grande é adepta dessa estratégia. Alimentar público e músicos, coletar o lixo e propiciar energia para que luzes e som saiam potentes do palco – tudo isso é uma oportunidade para trazer mais para perto do zero o nível de estragos provocados pelos festivais (veja quadro abaixo). Para chegar lá, Fischer e seus parceiros vão rezar pela mesma cartilha de Graham Penniman, organizador de um dos mais bem-sucedidos casos de festival verde, o Green Waves Music and Arts, que aconteceu no mês passado na Universidade Central da Flórida: “Sustentabilidade significa atender às nossas necessidades atuais sem comprometer a capacidade que as gerações futuras terão para atender às necessidades deles”, diz o produtor.

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