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O editor de cultura da ISTOÉ, Ivan Claudio, comenta o novo filme protagonizado por Matt Damon 

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Assista ao trailer de "Zona Verde"
 

 

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GUERRA EM XEQUE
O ator Matt Damon (foto) comanda um esquadrão em busca de armas de destruição em massa. Como não as
encontra, passa a questionar os relatórios da CIA e o próprio sentido da guerra

Quando um galã reúne credenciais de bom ator nunca lhe faltam papéis de qualidade no cinema. A recíproca nem sempre é verdadeira: personagens interessantes muitas vezes são vividos por bons atores que não são, necessariamente, galãs. No cômputo geral, esse segundo grupo acaba levando vantagem. É o caso do astro hollywoodiano Matt Damon, 39 anos e salário de US$ 16,5 milhões, cuja estampa não chega a ser tão bem-acabada quanto a de um Brad Pitt ou Tom Cruise. Segundo a revista “Forbes”, ele está entre os três atores mais procurados pelos estúdios e numa frequência superior aos colegas citados. Astros como ele, cuja aparência lembra a do rapaz da esquina, são conhecidos como “boys next door” e é essa característica que os torna tão populares. Sua feição comum molda-se bem a diversas “máscaras” – Damon consegue interpretar com a mesma desenvoltura e em sequência um agente da CIA que sofre de amnésia, um executivo trapalhão e um engajado jogador de rúgbi. Isso para ficar em alguns de seus filmes mais recentes, respectivamente, um thriller de ação, uma comédia e um drama político. Depois de ser eleito o homem mais sexy do mundo e o ator de maior retorno do investimento, no filme “Zona Verde”, que chega às telas brasileiras na sexta-feira 16, Damon acrescenta mais um item à sua coleção de conquistas: é o mais novo herói americano.

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FOGO CERRADO
No filme, o pelotão de Damon é formado por soldados que lutaram no Iraque na vida real

O próprio conceito de herói anda um pouco mudado no cinema dos EUA. O sentimento nacionalista persiste, mas se mostra bastante distanciado daquele defendido pelo antigo soldado que finca a bandeira de “estrelas e listras” no topo de uma montanha. Hoje, o mocinho é aplaudido se for crítico dos desmandos do passado, especialmente se esse passado for bem recente, caso da gestão do ex-presidente George W. Bush. Nesse thriller de guerra de Paul Greengrass, o mesmo diretor que dirigiu Damon nos blockbusters “A Supremacia Bourne” e “O Ultimato Bourne” (US$ 720 milhões em faturamento, somados), o ator encarna Roy Miller, um subtenente do Exército cuja missão é encontrar supostas armas de destruição em massa em subterrâneos de Bagdá, no Iraque. O soldado está longe do perfil dos colegas que se divertiam na prisão de Abu Ghraib. Ao explicar a sua presença no Iraque para um cidadão iraquiano que claudica de uma perna por “tê-la perdido em luta contra o Irã”, o mariner diz: “Estamos aqui para salvar vidas. E restabelecer a democracia.” Essa cantilena poderia ter sido dita nos anos 1980 por Harrison Ford. Ou algumas décadas atrás por John Wayne. Hoje cai bem em Damon – e Hollywood sabe disso. Tanto é assim, que ele foi o primeiro a ser lembrado ao se anunciar o projeto de filmagem da biografia “His Life”, centrada na vida do senador democrata Robert Kennedy, assassinado em 1968, um dos 11 filmes com os quais já está comprometido nos próximos dois anos.

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POLÍTICA
Damon vai interpretar o senador Robert Kennedy (foto) no filme “His Life”. O ator é democrata e votou em Obama

Muda o herói e muda também a sua agenda política, até  porque Damon, que usa sua visibilidade de estrela para atuar em causas ambientais, faz questão de se posicionar ideologicamente. Na campanha de Sarah Palin à vice-presidência dos EUA, em 2008, ele foi abertamente crítico às pretensões da candidata republicana e ex- governadora do Alasca. “Seria como um filme de Walt Disney malfeito”, disse em entrevista. Em “Zona Verde”, o personagem de Damon não poderia ser mais claro em suas posições contrárias à intervenção americana no Iraque. Numa cena bem conduzida, ele invade – com seu pesado uniforme coberto de poeira, para dizer o mínimo – o escritório de um alto funcionário do Pentágono e o agarra pelo colarinho branco: havia descoberto, depois de arriscar a sua vida e a de sua tropa em três operações inócuas, que o tal homem fora o responsável por forjar os relatórios da inteligência sobre os locais em que estariam armas químicas. Em um desses alvos indicados pela CIA – e depois de matar civis –, Damon encontra apenas um antigo estoque de vasos sanitários, cobertos de excrementos de pombos. Se tivesse sido lançado antes de “Guerra ao Terror”, esse thriller alucinante teria conquistado, com certeza, mais repercussão que o grande vencedor do Oscar: ele é mais bem articulado, mais bem filmado e mapeia com eficiência tudo o que se passava no Iraque naqueles primeiros meses de 2003. Embora faça uso do mesmo estilo de câmera nervosa e cortes rápidos, o diretor Greengrass não trocou apenas a roupa do agente Jason Bourne (do filme “A Supremacia Bourne”) e o colocou como um militar “adrenalinado” pelas vielas escuras de Bagdá, como vem sendo acusado. Fez mais que isso: criou um novo e original personagem. Damon, por sua vez, soube vestir o uniforme de seu país – e não está nem um pouco preocupado com o rótulo de antiamericanismo que tentam lhe colar os conservadores da era Bush. 

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