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“Estamos entrando na campanha juntos e governaremos juntos’’
Michel Temer, deputado

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As cartas da campanha à Presidência da República estão lançadas. Com a desincompatibilização da ex-ministra Dilma Rousseff (PT) e do ex-governador José Serra (PSDB), só falta aos pré-candidatos escolher seus vices. Nessa tarefa, os aliados do governo estão numa posição mais avançada e bem mais confortável do que os adversários. Já têm um nome de consenso para a vice-presidência: o do presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), que executou a façanha de unificar um partido historicamente dividido. Ainda que sua candidatura não tenha sido anunciada oficialmente, as dúvidas sobre a presença de Temer na chapa governista ao lado de Dilma se dissiparam com a permanência de Henrique Meirelles no Banco Central. Ao receber ISTOÉ em seu gabinete na noite da quarta-feira 7, Temer admitiu seus planos, mas com a cautela que lhe é peculiar. “Aparentemente está definido, mas definido não está”, afirmou Temer, ressalvando que qualquer posição ainda depende de conversas com o PT e a ex-ministra. Por precaução, ele ainda prefere dizer que será candidato à reeleição para a Câmara. “Quando viajo ao interior de São Paulo digo que sou candidato a deputado federal para garantir meu espaço”, comenta.

Apesar da cautela, Temer sabe que a formalização da chapa é uma questão de semanas e dá a indicação sobre a possível data do anúncio. “O PMDB vai realizar um grande Congresso em Brasília em 15 de maio para apresentar sua contribuição ao programa político do PT. Vamos fundir os programas e construir nossa coalizão eleitoral”, antecipa. A escolha do nome de Temer põe fim a uma queda de braço com o PT e o presidente Lula que já durava meses. Desde o início, o PMDB rejeitou a imposição do nome de Meirelles e outras exigências do Planalto, como a apresentação de uma lista tríplice para Dilma escolher seu vice. Na semana passada, Lula disse a assessores que cansou de dar murro em ponta de faca e reconheceu que Temer foi habilidoso ao unificar o PMDB em torno de sua candidatura. Em viagem a São Paulo, na noite da terça-feira 6, para inaugurar uma feira de construção, Temer acertou com Lula os detalhes da aliança política que começou a ser desenhada, em outubro do ano passado, com o acordo firmado entre os dois partidos.

“Estabelecemos naquele jantar um pré-compromisso com três pontos: a vice-presidência seria do PMDB e o partido participaria do plano de campanha de Dilma e do programa de governo”, lembra Temer. O presidente da Câmara garante que desta vez não será uma coalizão fisiológica, mas “programática”. “Antigamente o PMDB entrava na eleição dividido para depois negociar apoio ao governo eleito, por isso era chamado de fisiologista pela imprensa. Mas isso acabou. Estamos entrando na campanha juntos e governaremos juntos”, diz. A posterior negociação por cargos no governo, em suas palavras, poderá ocorrer “de forma mais natural” e de acordo com as especificidades de cada partido. Segundo Temer, o programa político que o PMDB apresentará daqui a um mês está sendo escrito a oito mãos, e, por sinal, mãos altamente qualificadas. Participam da tarefa o próprio Henrique Meirelles, o ex-ministro Delfim Neto, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, e o vice-presidente de Loterias da Caixa, ex-governador do Rio Moreira Franco. Ao que tudo indica, o programa peemedebista será mais do que uma simples contribuição.

Estão na mira do PMDB as propostas estatizantes e as ameaças à liberdade de expressão que constam do programa do PT. “O PMDB apresentará um programa mais moderado”, explica Temer. Essa visão mais equilibrada, também classificada como “pragmática”, pode ser um diferencial valiosíssimo para o sucesso da campanha de Dilma. “Tenho ouvido de muitos empresários que o Temer dá segurança para a chapa de Dilma, exatamente por sua experiência política e capacidade de diálogo e de negociar com os partidos”, avalia o senador Valdir Raupp (RO), vice-presidente nacional do PMDB. Para ele, o programa de governo deve conciliar o equilíbrio macroeconômico com o desenvolvimento. “Se o País continuar crescendo, em cinco anos teremos um gargalo na infraestrutura”, diz. Na opinião de Raupp, Temer, que está em seu sexto mandato parlamentar, soube como ninguém aparar arestas no PMDB, pondo fim à divisão entre as bancadas da Câmara e do Senado. “O PMDB nunca esteve tão forte. O nome de Temer tem o apoio de 90% do partido”, garante o senador.

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De fato, ao garantir o apoio majoritário de uma máquina eleitoral tão poderosa quanto difícil de controlar, Temer se qualifica indiscutivelmente para o posto de vice-presidente. Raupp ressalta que o PMDB tem hoje nada menos que dez mil lideranças com mandato no País, entre vereadores, prefeitos, deputados estaduais, federais e governadores. “O Michel agrega o PMDB em peso”, concorda o deputado Cândido Vaccarezza, líder do governo na Câmara. Vaccarezza lembra que vice não ganha eleição, mas pode contribuir para a governabilidade. A formalização da candidatura de Temer, segundo Raupp, não será uma iniciativa do PMDB. Deve ter origem num convite oficial de Dilma. Na segunda-feira 5, a ex-ministra elogiou a provável indicação de Temer para a composição da dobradinha. “Até agora o nome cogitado tem sido o do deputado Temer, que, sem sombra de dúvida, tem todas as qualificações para pleitear o posto”, afirmou a ex-ministra.

Os coordenadores da campanha de Dilma pretendem, por enquanto, mostrá-la sozinha em eventos para consolidar sua imagem de candidata. “É preciso primeiro fortalecer seu nome como sucessora do presidente Lula, para depois pôr outra pessoa no palanque. Senão você confunde o eleitor”, explica um dos gurus da campanha petista. A estratégia deve prevalecer até junho, quando ocorrem as convenções partidárias. Nos próximos meses, Temer também terá várias oportunidades para mostrar sua capacidade de negociação, desatando os nós que envolvem a composição dos palanques estaduais. “Antes tínhamos cinco Estados com problemas, mas agora já são dez”, afirma Raupp. Ele cita, por exemplo, as disputas no Ceará, em Mato Grosso, São Paulo, Pernambuco e Rondônia, além de Minas Gerais e Maranhão.

“O caso do Maranhão é emblemático”, avalia o senador, referindo-se à decisão do PT de fechar com Flávio Dino (PCdoB), descartando o apoio à reeleição de Roseana Sarney para o governo do Estado. A aliança foi derrotada por 87 votos a 85 no congresso estadual petista, o que deixou furioso o presidente do Senado, José Sarney, e lançou dúvidas sobre o sucesso da coalizão. Temer, no entanto, já entrou em campo para evitar o racha e obteve de Lula a garantia de que o resultado será revisto pela Executiva Nacional do PT. “Os problemas nos Estados estão sendo solucionados”, disse Temer à ISTOÉ. Em Minas Gerais, há outro nó  difícil de desatar, pois o petista Patrus Ananias insiste em enfrentar o peemedebista Hélio Costa na disputa pelo governo estadual. “PT e PMDB precisam estar unidos para a eleição. Se houver três candidatos, o risco é maior para todos”, pondera Temer. Apesar dos obstáculos, o presidente da Câmara considera que a formalização da chapa oficial significará alguns pontos de vantagem na corrida presidencial. “Em termos de pré-campanha, acho que a aliança PT/PMDB está na frente”, avalia Temer, com um largo sorriso no rosto.

EM BUSCA DE UM VICE

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CONTRAPONTO
Apesar das diferenças ideológicas com Serra, Kátia Abreu é cotada para ser a vice do candidato tucano

Uma característica proverbial do PSDB, segundo os adversários, é a indecisão. Na pré-campanha sucessória, não tem sido diferente. Depois da longa espera pela confirmação  da candidatura de José Serra, o PSDB vive a mesma ansiedade em torno da escolha do vice. A aposta inicial de uma chapa puro-sangue com Serra e Aécio tinha preferência quase unânime, mas ficou para trás após a negativa do neto  de Tancredo. No ninho tucano, restaram poucas alternativas. Uma delas é o senador Tasso Jereissatti (CE). Porém, até prova em contrário, ele não se entende com Serra.

Há, então, que recorrer às fileiras do DEM,  o principal parceiro eleitoral, desgastado com  os casos de corrupção em Brasília. Fala-se no nome da senadora e líder ruralista Kátia Abreu (TO), cujo perfil bate de frente com o de Serra, economista de esquerda. Outras opções seriam os deputados José Carlos Aleluia (BA) e José Agripino (RN), que também sofrem resistência. O presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra, admite que ainda se está longe de um consenso. “Vamos resolver daqui a algum tempo, sem pressões. O vice tem que somar e Serra terá liberdade para escolher”, disse Guerra à ISTOÉ.


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