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O novo governador paulista, Alberto Goldman (PSDB), 72 anos, assume o Palácio dos Bandeirantes com metas similares às que persegue nas quadras de basquete há seis décadas. Quer marcar muitos pontos a favor da candidatura à Presidência de seu antecessor, José Serra, mas evitar cometer faltas dentro e fora da quadra. “O problema da multa não é o pagamento”, diz Goldman, referindo-se à punição por irregularidades na campanha eleitoral. “A multa é uma questão moral.” Para o antigo comunista, administrar bem São Paulo será a cesta mais valiosa, mesmo que para isso precise fazer mudanças no secretariado. Engenheiro civil formado pela USP, Goldman foi ministro dos Transportes, secretário estadual de São Paulo em duas gestões e seis vezes deputado, quatro delas na Câmara Federal. A seguir, os principais trechos da primeira entrevista concedida por Goldman no gabinete do governador:

ISTOÉ – Como o sr. planeja conduzir o Estado?
Goldman – Vou cumprir todas as metas estabelecidas há três anos. Algumas estão em ordem, até avançadas, outras estão atrasadas. Pretendo também fazer um planejamento para a próxima década. Se lá atrás os administradores tivessem feito isso, talvez tivéssemos, por exemplo, um metrô mais efi ciente.

ISTOÉ – O sr. pretende mudar o secretariado?
Goldman – Eu posso fazer mudança no momento que houver necessidade, como o Serra fez. Algumas mudanças vão ser feitas agora porque alguns saíram (para candidatar-se às eleições de outubro).

ISTOÉ – O sr. descarta a possibilidade de tentar a reeleição, como Antonio Anastasia (PSDB) está fazendo em Minas Gerais?
Goldman – Todos estão fazendo exatamente como o Anastasia em Minas. Mas eu não quero ser candidato. Evidentemente, assumirei os nove meses de governo, que é a minha obrigação. Mas não quero assumir mais quatro anos de mandato.

ISTOÉ – Como o sr. pode influir na sucessão estadual?
Goldman – Do ponto de vista eleitoral, em 15 dias devemos ter o quadro definido. Não há grandes confl itos. Nem adversário temos ainda.

ISTOÉ – Mas o PT já optou por lançar o senador Aloizio Mercadante.
Goldman – No momento o adversário está um pouco fragilizado. Aparece uma candidatura e, em seguida, desaparece. Aparece outra. Volta a primeira. Voltam também os nomes de todos os “aloprados” que estavam em volta dele. Todos estão bem arrumados na vida. Imagino que isso deve ter balançado o lado de lá. Então, não temos pressa.

ISTOÉ – Como o sr. vai lidar com algumas bombas-relógio, como manifestações do funcionalismo?
Goldman – Elas foram desativadas antes de começar. Alguns militantes políticos da Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo) vão fazer algum barulho, tentar alguma provocação para manter acesa a chama.

ISTOÉ – O sr. e o presidente Lula estão em campos opostos. Isso pode atrapalhar a gestão do governo?
Goldman – Vou centrar minha atuação no campo administrativo. A minha expectativa é de não ser tratado de forma diferente pelo fato de ser de um partido que faz oposição ao governo federal. Aliás, eu nunca vi o Serra reclamar disso. E, assim como o Lula vai batalhar pela candidata dele, eu vou batalhar pelo meu. Sempre dentro dos limites que a lei me permite. Espero não ser multado, porque o problema da multa não é o pagamento. É uma questão moral.

ISTOÉ – E como ajudar o seu candidato sem ferir a lei?
Goldman – A melhor forma de ajudar é trabalhar bem no Estado. Se eu puder colaborar para que a diferença em São Paulo seja de “x” centenas de milhares de votos a mais do que seria, acho que já estarei contribuindo.

ISTOÉ – No discurso de posse, o sr. disse que um dos seus momentos mais delicados na liderança do PSDB na Câmara foi o escândalo do Mensalão. Por quê?
Goldman – Havia muita tensão. Tinha gente que defendia a ideia de deixar tudo embaixo do tapete. Outros queriam pedir o impeachment de Lula. Era um equilíbrio muito difícil. Precisava ter uma posição que não escondesse as coisas, mas, ao mesmo tempo, não embarcasse em nenhuma aventura. Seria uma aventura tentar fazer o impeachment porque esse não era o sentimento da sociedade.

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“Assim como o presidente Lula vai batalhar pela candidata
dele, eu vou batalhar pelo meu”

ISTOÉ – Na opinião do sr., qual deve ser o papel do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso na campanha presidencial?
Goldman – O Fernando Henrique tem de debater se o governo dele foi um salto em relação aos anteriores. E foi um salto. Faz parte da história. Mas a campanha é o futuro. É a campanha do Serra, da Dilma e de eventualmente alguém mais. O que eles propõem para o País? Quem pode avançar mais?

ISTOÉ – O PSDB está tentando esconder o ex-presidente?
Goldman – O PSDB considera uma tentativa de enganação criar um embate entre o passado e o presente. Se a candidata tem difi culdade no debate com o Serra, eles jogam o debate lá para trás, para deixá-la fora do fogo.

ISTOÉ – Desde 1970, é a primeira vez que o sr. não disputa a eleição. O que pretende fazer?
Goldman – Em 1º de janeiro de 2011, eu vou passar o cargo ao governador eleito. Depois, só tenho programado ter um pedaço de vida como qualquer cidadão. Em 40 anos de vida pública, não vi os meus fi lhos crescerem. Eu gostaria de escrever, de assistir a mais fi lmes, de ouvir mais música, de tocar mais música.

ISTOÉ – Por que o sr. não quis se mudar para o Palácio dos Bandeirantes?
Goldman – Está bom em Higienópolis. Tomo meu café de manhã em casa. Minha mulher também não quer mudar. A vida está organizada lá. Se fossem quatro anos, poderia até pensar nisso. A residência é ótima, mas não sinto atração nenhuma.

ISTOÉ – E o sr. vai continuar a jogar basquete três vezes por semana?
Goldman – Se o tempo me permitir, se não houver pressão de agenda, sim. Afi nal, são 60 anos brincando com a bola. Comecei a jogar molequinho. A bola era maior do que eu.