CARDÁPIO No Baggers, cada mesa possui telas para os clientes escolherem os pratos

Quando temos de esperar demais em um restaurante para ser atendidos ou o garçom erra o prato escolhido, aquilo que poderia ser um prazer gastronômico acaba se tornando motivo de irritação. Cansado de passar por esse contragosto, o empresário inglês Michael Mack decidiu abrir o seu próprio negócio – acrescentando nele um revolucionário tempero futurista, ou seja, a tecnologia touch-screen (tela sensível ao toque). O seu bistrô, chamado Baggers, instalado em Nuremberg, na Alemanha, completou na semana passada dois meses de funcionamento. Além da qualidade da cozinha, o segredo de seu sucesso é justamente o uso dessa tecnologia distribuída por todas as mesas. O cliente escolhe o prato encostando levemente um dedo na opção correspondente àquilo que ele quer pedir, indicado na tela, e sua solicitação é imediatamente enviada através de ondas de rádio para os da cozinha, no andar superior do restaurante. O sistema também estima o tempo que o freguês terá de esperar. Quando os pratos estiverem prontos, também aí, nada de garçons – eles deslizam por trilhos de metal que descem em forma de espiral da cozinha até as mesas. Esse é só um exemplo das facilidades e comodidades que o mundo touch-screen pode oferecer.

SUPERMERCADO No Pão de Açúcar, o monitor digital ajuda a encontrar qualquer produto

SURFACE O novo computador da Microsoft tem formato de mesa e dispensa teclado e mouse

A sua história remonta à empresa americana Hewlett- Packard no ano de 1983. O HP-150, fabricado por ela, era um computador com tela sensível ao toque, bastando clicála para acionar funções básicas como fechar ou abrir arquivos – nos anos seguintes esse sistema se difundiu em shoppings para auxiliar na localização de lojas. O segredo está nos sensores de infravermelho instalados na tela. “O grande truque está na simplicidade. Podemos reduzir o tamanho de um aparelho e aumentar suas funções criando toques digitais na própria tela”, diz o presidente da Apple, Steve Jobs, quando se refere a sua nova criação, o iPhone. O aparelho, que em poucos meses virou febre em todo o mundo, usa e abusa da tela sensível ao toque para exibir fotos, vídeos, textos, planilhas e ainda fazer ligações. Tudo sem se valer de um único botão. “Basta encostar o dedo na tela e a vida acontece”, diz Jobs.

iPHONE Sem botões, o celular da Apple tem recursos que são acionados ao se encostar o dedo na tela

CARRO Alguns toques na tela fazem o localizador via satélite (GPS) optar pelo melhor trajeto

Depois que ele anunciou a sua novidade em telefonia, foi a vez de seu rival Bill Gates, fundador da Microsoft, apresentar ao mercado outra grande novidade: o Surface, um computador que dispensa mouse, teclado e demais periféricos. Tudo funciona a partir de uma tela de 30 polegadas no formato de mesa. “Com um sistema de detecção de gestos e movimentos, através de câmera de infravermelho, o computador capta os comandos que são então interpretados e a imagem é mostrada na tela por meio de um sistema de projeção”, diz Gates. Apontado por especialistas como a grande evolução na tecnologia touch-screen, o Surface tem em sua superfície dezenas de sensores para obedecer a múltiplos comandos. “É possível, por exemplo, o marido compartilhar essa mesa digital com sua esposa para que ambos trabalhem juntos”, diz ele. Além disso, a mesa sensível ao toque interage com objetos colocados sobre ela. Explica-se: ao se apoiar um celular sobre a mesa, os sensores identificam o aparelho e, através de ondas de rádio, transferem músicas e arquivos para o telefone.

Também fora do mundo da informática o touch-screen vai se incorporando ao nosso cotidiano. Seguindo os passos da rede de supermercados alemã Extra, a rede brasileira Pão de Açúcar inaugurou em setembro uma loja no Shopping Iguatemi, em São Paulo, na qual cada carrinho possui uma tela de cristal líquido sensível ao toque. “No teclado virtual o cliente digita o nome do produto e é informado sobre a prateleira em que ele está. É possível ainda obter informações sobre vinhos”, diz Júlio Baião, gerente de tecnologia da informação da rede. Em automóveis de luxo da Mercedes e da BMW são comuns painéis digitais com touch- screen para se regular a temperatura ou verificar-se o nível do combustível. A Volkswagen já anunciou que a partir de 2008 todos os carros por ela produzidos na Alemanha terão telas touch-screen ao lado do volante para controlar ar-condicionado, portas, vidros e iluminação – até os modelos mais simples. Ainda no setor de automóveis, por aproximadamente R$ 500 é possível instalar um localizador via satélite (GPS) com touch-screen em qualquer carro, bastando alguns cliques na tela do aparelho para encontrar um determinado endereço. Se alguém almoçou, fez compras e foi para casa de carro, valendo- se da tecnologia touch-screen em cada etapa dessa atividade, pode continuar desfrutando dela em sua residência. É o caso do empresário paulista Leonardo Senna, dono da iHouse, especializada em automação de casas. “Na entrada do apartamento nós instalamos uma tela ligada a todos os cômodos. Basta tocar nela para ajustar a iluminação, acionar o aspirador de pó ou ligar a banheira de hidromassagem”, diz Senna. Toda essa tecnologia está demonstrando que viver no presente aquilo que antigamente se chamava de futuro é mais simples do que se imaginava no passado.