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O visitante desavisado que entra no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, à primeira vista pode ter a impressão de estar diante de restos de um avião. Um dos primeiros objetos visíveis, “Hermes”, é uma espécie de asa incompleta que se move a partir de sensores que detectam a presença do público, ativando não apenas essa obra, mas também uma série de outros objetos, em sua maioria ventiladores. Porém, estes são apenas os coadjuvantes que evidenciam o verdadeiro tema da exposição: o vento. Com o título de “Herói”, a mostra de Wagner Malta Tavares, além de comemorar os dez anos de carreira do artista, procura destacar a sutileza e a invisibilidade do ar como metáfora do heroico. Isso se revela em obras que remetem às asas caídas do deus que servia de comunicador entre os mortais e o Olimpo, em uma casa que poderia ser a do Morro dos Ventos Uivantes, lar dos heróis românticos nefelibatos, e até mesmo ao Super- Homem, com seu superpoder de voar.

Mas esse herói tem sua presença demonstrada apenas pela menção, já que o ar é invisível. “Uma das características do meu trabalho é evidenciar aquilo que não é explícito, tornando o invisível visível”, comenta Tavares, que desenvolveu todas as obras exclusivamente para essa mostra. Um exemplo são os vídeos “Uma Diversão, um Tormento, uma Ocupação”, nos quais se vê a passagem do tempo através do movimento do ar e da luz em uma casa no alto de um morro. O primeiro vídeo mostra os ventos agitando as cortinas de uma casa que só tem portas. O segundo apresenta essa mesma casa ao cair da noite e o aparecimento gradual de suas luzes interiores. “A casa apresenta o invisível pela curiosidade que ela provoca no espectador. Por estar distante, não sabemos o que há realmente dentro dela, temos apenas uma sugestão, através do vento e da luz”, explica o artista. Além dos objetos e dos vídeos, há também fotografias e talvez o grande destaque: “Herói”, trabalho que dá nome à mostra (foto). Trata-se de um enorme ventilador industrial que assopra um tecido vermelho. A capa do super-herói? Assim como a presença invisível do vento, o artista sugere que os super-heróis existem apenas no âmbito do etéreo.

HERÓI - WAGNER MALTA TAVARES/ Instituto Tomie Ohtake, SP