img.jpg
FIDELIDADE
A maioria dos novos ministros foi escolhida pelos
candidatos que deixaram os cargos

Na segunda-feira 29, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que, para evitar o uso da máquina pública na eleição, não nomearia os novos ministros a partir dos interesses dos partidos. Mas não foi isso que se viu. Apesar de ter dito que “ministro não é para cuidar da campanha de ninguém”, Lula dobrou-se às conveniências políticas. “A pressão está muito grande”, reclamou Lula, referindo-se às abordagens de caciques do PMDB, como José Sarney (AP), Michel Temer (SP) e Renan Calheiros (AL). Na posse dos dez novos ministros na quartafeira 31, as investidas surtiram efeito. O PMDB manteve o controle das pastas das Comunicações, Minas e Energia, Agricultura, Integração Nacional e Transportes, que juntas têm um orçamento de R$ 79 bilhões. “Os novos ministros tendem a se transformar em cabos eleitorais. Há um vínculo de lealdade com quem indicou”, diz o deputado Raul Jungmann (PPS-PE). O primeiro a sentar com Lula para escolher seu sucessor foi o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes (PMDB-PR), que defendeu o secretário- executivo José Gerado Fontelles. Mas quem ganhou a vaga foi o presidente da Conab, Wagner Rossi, indicado por Temer, que pediu o cargo para se capitalizar na disputa pela vaga de vice na chapa da ministra Dilma Rousseff. Stephanes ponderou que Fontelles resistiria em transformar a pasta em um balcão de negócios.

“É eleitoreiro, o ministro que sai continua mandando na pasta”
Demóstenes Torres, senador (DEM-GO)

“Não sei se o Rossi tem poder para suportar as pressões”, lamentou Stephanes a amigos. Lula disse a Stephanes que estava difícil rejeitar o pedido do PMDB. “O Temer insistiu no nome do Rossi”, explicou Lula. O presidente também cedeu às pressões do PMDB na pasta das Comunicações e nomeou o chefe de gabinete José Artur Filardis Leite. Filardis é a garantia do ex- ministro Hélio Costa para montar 21 mil telecentros de informática, com ênfase em Minas Gerais. Para a oposição, este tipo de nomeação fortalece a campanha de Costa ao governo. “Há cunho eleitoreiro, pois o ministro que sai continua mandando na pasta”, critica o senador Demóstenes Torres (DEM-GO). Nas Minas e Energia foi nomeado o secretário- executivo Marcio Zimmermann, escolha do grupo de Sarney. Outro premiado foi o ex-ministro da Integração Nacional Geddel Vieira Lima, com a nomeação de seu secretário-executivo João Reis Santana Filho, que ajudou Geddel, candidato ao governo da Bahia, a canalizar os recursos da pasta para os municípios baianos. “Os padrinhos deixam os afilhados no lugar.

Os atuais ministros podem se transformar em cabos eleitorais dos que saem para as eleições”, diz Gil Castelo Branco, da ONG Contas Abertas. O Ministério do Desenvolvimento Social será comandado pela assistente social Márcia Lopes, irmã do chefe de Gabinete de Lula, Gilberto Carvalho. Isso significa um impulso na campanha do ex-ministro Patrus Ananias ao governo de Minas. Na Previdência Social, o ex-ministro José Pimentel (PT-CE) emplacou o secretário-executivo Carlos Eduardo Gabas. No Ministério dos Transportes, Alfredo Nascimento vai concorrer ao governo do Amazonas e foi substituído pelo secretário-executivo Paulo Sérgio Oliveira Passos, seu fiel escudeiro. Ou seja, mudaram os nomes, mas não mudaram as prioridades. A máquina continuará a ser usada para garantir o êxito de projetos eleitorais.