Pequenos no porte, mas grandes nos sonhos, os partidos nanicos não são tão inofensivos como parecem. Muito pelo contrário. Juntos, representam uma ameaça às grandes legendas, ao repartirem em muitas fatias o imenso bolo eleitoral. Podem interferir diretamente no resultado da eleição de outubro e até mesmo levá-la para o segundo turno. Depois dos pleitos de 2002 e 2006, esta será a primeira eleição sem a camisa-de-força da verticalização, que obrigava os partidos a repetir em todos os Estados a chapa presidencial. O resultado é a multiplicação dos pré-candidatos à Presidência: sete nanicos já lançaram nomes (PHS, PCO, PSDC, PSL, PSTU, PTdoB e PRTB). Até poucos dias atrás, eles nem sequer apareciam nas pesquisas de intenção de voto. Mas, na última sondagem do Datafolha, o desconhecido Mario Oliveira (PTdoB) surgiu com 1% das intenções num cenário sem a participação de Ciro Gomes (PSB), enquanto os demais concorrentes oscilam entre zero e meio ponto percentual.

“Um por cento é quase 1,5 milhão de votos. Nada mal, considerando que até agora só fizemos campanha na internet”, afirma o advogado Mario Oliveira. Para ele, é apenas o começo. “Nos próximos três meses, vamos multiplicar isso por três.” O pré-candidato, que esteve em Osasco na terça-feira 30, aposta nas redes sociais da internet e na venda de livros para conseguir doações e votos. “Nossa previsão é obter 20 milhões de votos”, estima. Mais realista, o veterano Levy Fidelix (PRTB) espera reunir o apoio de pelo menos três milhões de eleitores. A estratégia é usar o capital político obtido no primeiro turno para negociar com os grandes partidos no segundo turno. “Minhas ideias às vezes chocam, mas acabam sendo usadas pelos políticos. O Rodoanel, por exemplo, é ideia minha”, garante.

Para José Maria Eymael (PSDC), outro nanico famoso, apesar do cenário polarizado entre PSDB e PT, existe espaço para novas candidaturas. “Há uma fatia considerável da sociedade brasileira que não se sente representada pelos grandes partidos”, afirma. Eymael faz as contas. “Na pesquisa Datafolha, minha candidatura obtém 1% das intenções em vários segmentos, como no eleitorado feminino e no público com ensino fundamental”, comemora. Dono de um dos mais famosos jingles da história política brasileira, Eymael também aposta nas mídias alternativas para popularizar sua candidatura. “Transformamos o jingle em ringtone que pode ser baixado no site do partido”, afirma.

O cientista político Leonardo Barreto, da UnB, lembra que nas eleições de 1989, quando não existia a verticalização, os nanicos obtiveram nada menos que 5,5% dos votos válidos. Hoje, considerando o crescimento do eleitorado, esse montante significaria cerca de 7%. “É bom lembrar que muitos partidos nanicos expressam demandas de minorias reais da sociedade, inclusive a insatisfação quanto aos projetos políticos dos grandes partidos”, afirma.

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