O jogo, enfim, começou. E segue o roteiro traçado pelo governo: o de uma eleição polarizada entre PT e PSDB. “Nós” contra “eles”, repetem os estrategistas da campanha oficial. Oito anos de Lula, contra oito anos de FHC. Estado forte versus neoliberalismo. E foi exatamente essa a linha do discurso da ministra Dilma Rousseff durante o lançamento do PAC 2 – a curiosa continuação de um filme, o PAC 1, que mal começou. No seu último ato de governo, Dilma tentou até chorar, mas não foi convincente. A voz ficou embargada, mas nenhuma lágrima rolou do seu rosto ou de quem estivesse na plateia. No palanque, apenas bocejos – e muitos.

Por trás do discurso, há uma fraude gigantesca: a ideia de que o PT reinventou o Brasil. E que, portanto, o eleitor não deve permitir retrocessos, como, por exemplo, uma volta à era das privatizações. Suspeita-se até que o PSDB esteja caindo na armadilha. E a prova seria a decisão de “esconder” o ex-presidente FHC do ato de lançamento da campanha de José Serra, programado para o dia 10. Se fizerem isso, cometerão erro idêntico ao de 2006, quando Geraldo Alckmin conseguiu a proeza de ter menos votos no segundo turno do que no primeiro, depois de vestir uma jaqueta com os logos das estatais, rendendo-se à lógica petista.

A questão a ser colocada é muito simples: de que têm medo os tucanos? Deveriam mesmo temer a polarização proposta pelo PT? Na verdade, seria muito mais simples – e bem mais eficiente – defender o Plano Real, do qual o governo Lula se beneficia até hoje, e até mesmo as privatizações, que fizeram com que cada brasileiro pudesse ter um telefone, evitaram que a Embraer falisse e ainda permitiram que uma empresa como a Vale se tornasse a maior do mundo em seu setor. Muito do que Lula hoje colhe foi plantado por seus antecessores. Ou seja: a popularidade desfrutada pelo grupo que Dilma chama de “nós” não seria a mesma sem tudo aquilo que “eles” fizeram.

Enquanto isso, quais são os grupos que se aproximam da candidatura petista? Nas zonas rurais, o sem-terra José Rainha promete um “abril vermelho”, com mais invasões de terras. E diz que todos os acampamentos comandados por ele serão, ao mesmo tempo, um “campo de batalha” e um “comitê pró-Dilma”. Em São Paulo, a sindicalista Maria Izabel Noronha comanda uma greve claramente política, em que os professores queimam livros e fecham as ruas da maior cidade do País, infernizando a vida dos motoristas. Investem tão escancaradamente na baderna que correm até o risco de provocar no eleitor um instinto de defesa: “nós” contra “eles”. Eles, evidentemente, o PT.