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SUCESSO
detalhe do acelerador de partículas

Às 8h06 da terça-feira 30, o Universo não estava muito diferente do que sempre foi nos últimos 13,7 bilhões de anos, quando surgiu depois da grande explosão que deu origem a tudo que conhecemos, o Big Bang. No entanto, naquele exato instante, o maior evento de todos os tempos foi reencenado pela primeira vez. Depois de gastar 16 anos e US$ 10 bilhões, cientistas do Cern, a Organização Europeia para Pesquisa Nuclear, alcançaram a façanha no LHC (Grande Colisor de Hádrons, na sigla em inglês) – o maior acelerador de partículas do mundo.

No túnel de 27 quilômetros de extensão em formato de anel, localizado na fronteira entre a França e a Suíça, as partículas (minúsculos pedaços de matéria) se chocaram a algo muito próximo dos 300 mil quilômetros por segundo, a velocidade da luz. A colisão gerou energia e temperaturas que não se viam desde o primeiro instante da história do cosmos. Entre as inúmeras questões a serem respondidas a partir de agora está a comprovação da existência do bóson de Higgs, também chamado de “partícula de Deus”, responsável pelas forças fundamentais do Universo e a natureza básica da matéria – ou tudo aquilo que nos cerca.

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SUCESSO
cientistas celebram os resultados do experimento na terça-feira 30

“Estamos todos impressionados como fomos longe”, disse Guido Tonelli, um dos porta-vozes do estudo, em comunicado oficial. “É particularmente gratificante constatar como o aparelho está funcionando bem, ao mesmo tempo que nossos físicos analisam os resultados. O futuro à nossa frente é promissor”, afirmou. As pesquisas do LHC devem continuar na velocidade atual pelos próximos dois anos. Já as respostas que elas buscam encontrar prometem levar mais algum tempo.

“Queremos responder a perguntas muito básicas”, diz Sérgio Novaes, professor do Instituto de Física Teórica da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e coordenador do Centro Regional de Análise do LHC em São Paulo, uma das unidades espalhadas por 30 países responsáveis por acompanhar o funcionamento do acelerador. “Os detectores vão encontrar coisas que existem, mas ainda não conhecemos”, afirma.

O conceito básico do acelerador de partículas foi concebido em 1911, quando o físico neozelandês Ernest Rutherford teve a ideia de colidir uma partícula contra outra. Só no início dos anos 1930, entretanto, o americano Ernest Lawrence – Nobel de física em 1939 – construiu o primeiro desses aparelhos em forma de círculo, o “ciclotron”, que cabia na palma da mão. De lá para cá, as máquinas aumentaram em proporção e também em eficiência. Graças a elas, hoje temos acesso a informações das quis Einstein, Rutherford e Lawrence nunca dispuseram.

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Independentemente das descobertas que a máquina gigante fizer, no entanto, a tecnologia necessária para construí-la nos brindou com avanços sem os quais nossa vida seria bem diferente. A internet foi criada no Cern, a casa do LHC. Já os computadores usados pelos físicos para fazer os cálculos complexos exigidos nesse tipo de experimento não existiriam se não fosse a demanda desses cientistas. Se não descobrirmos de onde viemos, ao menos sabemos que temos um futuro instigante pela frente.

 

ENTENDA O EXPERIMENTO

1 Dois feixes de prótons são lançados um contra o outro. São 100 bilhões de partículas que dão 11 mil voltas no túnel

2 Eles atingem 99,9% da velocidade da luz (300 mil km/s)

3 Os feixes colidem e liberam energia similar à dispersada no Big Bang, a explosão que originou o Universo

4 O choque forma partículas semelhantes às presentes na formação do Universo. Com os dados obtidos no experimento desta semana e nos que virão nos próximos anos, os cientistas esperam encontrar o bóson de Higgs, a “partícula de Deus”, que teria dado origem a toda matéria do Universo

5 A informação gerada pelas colisões foi registrada por quatro detectores: Alice, Atlas, CMS e LHCb

6 Os dados são analisados por computadores espalhados por centros em 30 países, entre os quais estão EUA, China, Espanha, Alemanha, França e Brasil