Seria radical demais sugerir que todos os corruptos brasileiros seguissem o exemplo do ministro japonês da Agricultura, Florestas e Pesca, Toshikatsu Matsuoka. Ele morreu, literalmente, de vergonha. Matsuoka preferiu suicidar-se a responder, diante de uma comissão do Senado, a acusações de corrupção e malversação de fundos públicos. Foi o primeiro suicídio de um membro do governo do Japão desde o final da Segunda Guerra.

Os antigos guerreiros japoneses costumavam, ao ser capturados, pedir permissão para cometer haraquiri. Era uma morte digna, que preservava a honra dos derrotados. Em vez de usar a espada samurai, o ministro Matsuoka enforcou- se com uma guia de cachorro.

Um modo, talvez, de pedir perdão e evitar a vergonha social com o sacrifício extremo da própria vida. No Brasil, a espada de aço não passa de objeto de decoração. E a navalha, nome da mais recente operação caçacorrupto da Polícia Federal, passa longe do abdome de tantos outros políticos, empresários, funcionários e caras- de-pau que continuam assaltando os cofres públicos. Todos se agarram o quanto podem aos cargos e benesses. Onde foi parar a vergonha?

Parece que cada novo escândalo é apenas a ante-sala do próximo. Os espertos se safam e a sociedade corre o risco de ficar amortecida, achando que a corrupção é a ordem natural das coisas. E é mesmo. No mundo biológico, "ser interesseiro, sedutor, corruptor ou corruptível são atitudes naturais e necessárias para preservação da vida das espécies", escreve o psicólogo Waldemar Magaldi Filho em Dinheiro, saúde e sagrado (Edicta, 2006). As flores, os pássaros e os mamíferos são hábeis em dissimular e conquistar para sobreviver. O que faz do ser humano um animal diferente? A noção de que a ética não é apenas desejável em todas as esferas, mas também possível em larga escala, deveria fazer a diferença. Ainda há tempo de mudar, inclusive pelo voto e sem radicalismos.