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Há 128 anos, o horizonte da cidade de Colônia, na Alemanha, é dominado por uma catedral de estilo gótico com duas torres de 157 metros de altura, que levou mais de seis séculos para ser construída. Agora, a cidade debate a construção de um novo templo. Trata-se de uma mesquita projetada para fincar dois minaretes de 55 metros de altura a três quilômetros da catedral. Depois de quase três anos de manifestações pró e contra a mesquita, o Conselho da cidade acaba de aprovar a obra, apesar da acirrada oposição de dois partidos: o conservador União Democrata Cristã (CDU) e o extrema-direita Pró-Colônia. O prefeito Fritz Schramma, que ficou meses em cima do muro, acabou votando a favor da mesquita e contra o seu próprio partido, o CDU, o mesmo da primeira-ministra Angela Merkel. "É evidente que os muçulmanos precisam de um lugar atraente para rezar", disse Schramma no auge do debate. "Por outro lado, me incomoda o fato de pessoas estarem vivendo aqui há décadas e não falarem uma única palavra em alemão."

Imigração e integração sempre foram temas com potencial explosivo na Alemanha. Em Colônia, cidade com 120 mil muçulmanos, o que corresponde a 12% de sua população, as manifestações de intolerância estão prestes a se aguçar. Neste final de semana, os líderes do Pró-Colônia planejam reunir milhares de pessoas numa praça histórica da cidade, para um encontro que começa radical pelo nome – Conferência Antiislamização. O movimento contra o que consideram "humilhante islamização da Europa" veio à tona em 2005, assim que uma organização religiosa, a União Islâmica Turca (Ditib), anunciou sua intenção de construir a mesquita. O projeto, orçado em 20 milhões de euros, está a cargo do escritório de arquitetura Paul Böhm. Até há pouco tempo, Paul era conhecido por construir igrejas, uma tradição inaugurada por seu avô, Dominikus, e seguida por seu pai, Gottfried, dono de um prêmio Pritzker, o mais prestigiado da arquitetura mundial. Em sua primeira obra para o universo islâmico, o arquiteto projetou o que considera "um prédio moderno e internacional e não uma mera imitação da estética oriental". Com capacidade para receber dois mil fiéis, a mesquita terá paredes em forma de concha e uma fonte no interior. O térreo abrigará um bazar. No piso superior, aberto à visão de quem passar pela rua, ficará o espaço para orações.

A transparência do projeto não amenizou a posição dos que resistem à obra. "Os muçulmanos estão em Colônia há mais de 40 anos e ainda rezam nos fundos de suas casas", costuma argumentar o teólogo Seyda Can, da Ditib. É justamente a visibilidade dos seguidores de Alá o que mais incomoda o escritor judeu Ralph Giordano, sobrevivente do holocausto e um dos mais radicais opositores da obra. Para ele, "mesquitas são o símbolo de um mundo paralelo". O escritor, porém, não se alinha com o Pró- Colô nia, que considera uma "representação local do nazismo contemporâneo". Por outro lado, há ressalvas mesmo entre os setores não-muçulmanos que se alinharam a favor da construção da mesquita. "Nós vivemos em uma terra de liberdade religiosa", argumenta o diácono da catedral, Johannes Bastgen. "Eu ficaria muito satisfeito se o mesmo princípio existisse nos países muçulmanos." Diante da intolerância existente na maioria dos países muçulmanos, a observação do diácono é mais do que pertinente. Só que, na Alemanha, com uma população de mais de quatro milhões de muçulmanos, a polêmica de Colônia envolve o enorme – e imediato – desafio da integração cultural.

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